terça-feira, 21 de julho de 2009

O homem de barbas grisalhas, crespas pela humidade do suor, dos passos chegados do deserto - entrou na taberna.Tirou um banco de uma mesa de madeira e sentou-se a ler a cela ocupada por homens - todos eles finíssimos exemplares de mediocridade. Alguns não eram mais do que avestruzes, com incontinência urinária e escassez existencial. Olhando em redor, ali vagueavam orações tiranas ao sabor de ginja, dos rosés, e água ardente. O homem de barbas, rodou o corpo, dirigiu-se ao balcão e pediu num tom grave, o chamado vinho de mesa. Espreitou os bolsos das calças de linho manchadas de tristeza, a apalpar o dinheiro e encontrou três migalhas de pão. Com um gesto medido deixou as esmolas de pão, ali, naquele balcão barrento e chegaram não pombos, mas animais necrófagos atraídos pelo odor da morte. Essa (a morte) adiantou-se, e veio ver os homens podres dentro da cela. O homem de barbas ouviu com o coração o grito dos corvos - o som do ar assombrado debaixo das montanhas; porém, permutando entre o ar e a luz difusa, os risos zombeteiros, os homens na cela ouviram o rugido do jaguar - o cântico nos olhos daquele Homem e, como que subitamente vexados, verteram-se ao silêncio. Não saberiam dizer, mas todos sentiram a passagem do pó vindo do deserto, e na manhã seguinte urinaram sangue, para espanto das lavadeiras do rio de águas puras e cristalinas.

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