quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Cabra

Falei com uma cabra.
Estava sozinha no prado, estava presa.
Saciada de erva, molhada
pela chuva, balia.

Aquele monótono balido era irmão
da minha dor. Eu respondi-lhe, a princípio
por brincadeira, depois porque a dor é eterna,
tem voz e não muda.
Era esta voz que sentia
gemer numa cabra solitária.

Numa cabra de rosto semita
sentia queixarem-se todos os outros males,
todas as outras vidas.

Umberto Saba in Dez Poetas Italianos Contemporâneos em selecção, tradução e notas
de Albano Martins. Publicações Dom Quixote, 1992

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