quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O ESTUDANTE DE LATIM

«Das várias coisas boas que havia na loja em grandes quantidades, poucas delas subiam as íngremes escadas, pelo menos para Karl Bauer, porque a comida da Sra. Kusterer era pouca e nunca o saciava. Sem ser isso, viviam ambos muito amistosamente e ele tinha o quarto como um príncipe tem um palácio. Ninguém o incomodava, podia fazer o que quisesse e ele fazia muita coisa. Os dois abelheiros na gaiola seriam a coisa menos importante, mas ele também tinha uma espécie de oficina de marceneiro e no fogão fundia o chumbo e zinco e no Verão tinha licença e lagartos numa caixa - eles desapareciam sempre pouco tempo depois através de buracos que nunca eram os que apareciam na rede. Além disso tinha também o violino e quando não estava a ler ou a carpinteirar, estava seguramente a tocar violino a qualquer hora do dia ou da noite.
E assim o jovem passava com prazer todos os dias e nunca se aborrecia, até porque não lhe faltavam livros que copiava quando encontrava qualquer coisa. Lia bastante mas, na realidade, era-lhe tudo um pouco indiferente, a não ser os contos de fadas e lendas, assim como as tragédias em verso.»


Hermann Hesse.Contos de Amor. Trad. Maria Adélia Silva Melo. Difel, 1995., p.19/20

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