domingo, 12 de setembro de 2010

Segunda Meditação

Existe uma grande diferença entre todos os homens e Charlot. Todos os homens se riem dos peixes coloridos e Charlot chora ao ver os peixes coloridos.
Em nenhuma estética se utilizou o pranto desta maneira tão pura.
O pranto foi sempre uma consequência. Charlot faz do pranto uma causa, fonte isolada sem relação com o tema que o produz. Pranto redondo. Pranto em si mesmo.
O riso oferece-se aos peixes coloridos porque o riso é abundante e não exige esforço. Após oferecer o riso à mulher, ao céu e às brisas alegres da primavera, ainda resta o riso para os elefantes e para os peixes coloridos, os calmos e muito distantes peixes coloridos.
O pranto é outra coisa. Oferece-se ao amor e ao morto que se despede. Quem chora gasta-se como uma vela. Todos são avaros das suas lágrimas por esta razão.
(...)
Frederico García Lorca. A Morte da mãe de Charlot. Trad. Fernando Ilharco Morgado. Farândola, Paris, 1999.,p. 17/8

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