sábado, 6 de novembro de 2010

«(...) Gosto de estar num café a observar pessoas. Quando estamos sentados, reparamos numa só pessoa e construímos uma micronarrativa. É como se usássemos aquela técnica antiga da fisionomia, de ler os rostos, que os médicos usavam quando queriam evitar métodos intrusivos. Transformavam-se em adivinhos científicos. Como não posso fazer análises clínicas ao sangue das pessoas, testes ao carácter, à inteligência, ou às emoções, utilizo o que tenho disponível: os rostos. Quando caminho, é quase instintivo reparar nos vários rostos, comportamentos, gestos, perceber se as pessoas vêm de uma coisa boa ou má. Nos cafés, sinto-me como se estivesse numa torre - uma mesa escondida que me permite ir observando. É isso que me interessa. O campo não tem uma multidão de rostos. »



Gonçalo M. Tavares. Actual, Nº 1984 Jornal Expresso, 6 de Novembro de 2010.

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