quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Fanal

Aqui, onde entre mares cresceu a ilha,
pedra de ara súbito como torre erguida,
aqui acende sob um negro céu
Zaratustra os seus fogos das alturas, -
fanal pra navegantes sem rumo,
ponto de interrogação para os que têm resposta...

Esta chama de ventre esbranquiçado
- sua cobiça lança línguas a distâncias frias,
dobra o pescoço para alturas sempre mais puras -
cobra erguida a pino, de impaciência:
este sinal o pus eu em frente a mim.

A minha própria alma é esta chama:
insaciável de distâncias novas,
lança ao alto, ao alto o seu ardor silente.
Porque fugiu Zaratustra dos bichos e dos homens?
Porque se escapou de repente de toda a terra firme?
Seis solidões conhece ele já -,
mas o próprio mar deixou-o subir, sobre o monte ele se fez chama,
a uma sétima solidão
lança buscando agora o seu anzol por sobre a fronte.

Navegantes sem rumo! Destroços de astros velhos!
Ó mares do futuro! Ó céus inexplorados!
Lanço agora o anzol a tudo o que é solitário:
dai resposta à impaciência da chama,
agarrai para mim, pescador nos altos montes,
a minha sétima última solidão! - -



F. Nietzche. Poemas. Antologia, Versão Portuguesa, Prefácio e Notas de Paulo Quintela. 2ª Edição Revista. Centelha, Coimbra, 1981,p. 35

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