domingo, 27 de fevereiro de 2011

«(...) O dia está luminoso, o sol brilha, o ar reverba, e a estrada cintila de calor. As paredes laterais do prédio fazem-no parecer recortado, incompleto. Aquelas poderiam ser as paredes de qualquer prédio. A casa não é ali mais sombria do que na Rua da Estação. Mas as janelas estão cobertas de pó, não deixam adivinhar nada dentro das divisões, nem sequer as cortinas. A casa é cega.
       Estaciono junto à berma e atravesso a estrada na direcção da entrada. Não se vê ninguém, não se ouve nada, nem tão-pouco o ruído longínquo de um motor, nem o vento, nem um pássaro. O mundo está morto. Subo as escadas e toca a campainha.
        Mas não abro a porta. Acordo e sei apenas que atingi a campainha e a toquei. Depois vem-me à memória todo o sonho, e que também já o havia sonhado muitas vezes antes.»



Bernhard Schlink. O Leitor. Traduzido do alemão por Fátima Freire de Andrade. Edições ASA., p.6/7

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