sábado, 4 de junho de 2011

XVII MENIPO E TÂNTALO

MENIPO

   Porque choras, ó Tântalo? ou porque te lamentas, de pé, à beira do lago?


TÂNTALO

  Porque, ó Menipo, morro de sede.


MENIPO

  És assim tão preguiçoso que te não abaixas para beber, ou então, por Zeus, para recolher a água na concha da mão?

TÂNTALO
 
   Isso de nada me valeria, se eu me abaixasse, porque a água foge, sempre que me sente aproximar. E se alguma vez a recolho e aproximo dos lábios, não humedeço suficientemente depressa a ponta dos lábios que, escapando-se por entre os dedos, não sei como, ela me não deixe de novo a mão seca.

MENIPO

  É extraordinário o que te acontece, ó Tântalo. Todavia, diz-me cá: porque é que ainda tens a necessidade de beber? Na verdade, não tens corpo, mas está sepultado algures na Lídia aquilo que justamente podia ter fome e ter sede, mas tu, que és alma, como é que ainda podes ter sede?

TÂNTALO

  Isso é exactamente o meu castigo, ter a alma sede como se fosse corpo.



Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 66

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