domingo, 2 de setembro de 2012


À janela, nova, a vida velha:
mexem as folhas e vem a mim a luz.
Estou só, cheio de mim, como aquela nuvem
que tem lá dentro a calma de ali estar.
Meu Deus, como aqui nos alegramos com tão pouco!
Assim seria a vida, sem a ânsia
dos homens que parece terem pressa de matar,
dessa raça de mastim que rouba o tempo,
os anos, o fôlego e a memória,
e sem ciúmes nem amores ocultos
que murcham a flor do respirar.
Estou só e canto, e olho aquela nuvem
cheia de mim e do seu antigo olhar-me.



Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 53
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