domingo, 28 de abril de 2013

(...)

Povos da Terra
vós, que com a força dos desconhecidos
astros vos envolveis como carrinhos de linhas,
que coseis e de novo descoseis o que cosestes,
que entrais na confusão das línguas
como em cortiços de abelhas,
para no doce picardes
e serdes picados -

Povos da Terra,
não destruais o Universo das Palavras,
não corteis com as facas do ódio
o som que nasceu ao mesmo tempo que o hálito.

Povos da Terra,
Oh, que ninguém queira dizer Morte quando diz Vida -
e ninguém Sangue, quando diz Berço -

Povos da Terra,
deixai as palavras ao pé da sua fonte,
pois são elas que podem levar
os horizontes até aos céus verdadeiros
e desviadas de lado
como uma máscara atrás da qual boceja a noite
ajudar as estrelas a parir -

Já hoje exercitamos a morte de manhã
quando ainda o morrer velho murcha em nós -
O medo da humanidade de não resistir -

Ó habituação da morte até adentro de sonhos
onde andaime de noite cai em cacos negros
e lua de osso brilha nas ruínas -

Õ medo da humanidade de não resistir -

Que é dos suaves açoitados
Anjos-calma, que a fonte oculta
nos tocaram, que do cansaço
corre pra o morrer?






Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 114/5
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