quinta-feira, 16 de maio de 2013

Parapine

«(...) Parapine é um rapaz que tenho na conta de inteligente, bem entendido...Mas apesar de tudo um rapaz com uma inteligência inteiramente arbitrária! Não acha, Ferdinand? - entièremeng, como ele dizia. - Antes de mais, é um rapaz que não quer adaptar-se...É coisa que se nota logo...Nem sempre está à vontade na profissão...Não está sequer à vontade neste mundo! ...Confesse!...E neste ponto ele não tem razão! Nenhuma razão!...E então sofre!...A prova é esta. Olhe para mim, veja como eu me adapto, Ferdinand!... - batia no esterno. - Que a terra comece amanhã a girar ao contrário, por exemplo. Muito bem, e eu? Adapto-me, Ferdinand! E logo de seguida! Sabe como, Ferdinand? Dormindo mais umas dozes horas, e acabou-se! E pronto! Para a frente! Não é mais esperteza que isto! E a coisa fica arrumada! Estou adaptado! Enquanto o seu amigo Parapine, esse, sabe o que ele faz numa aventura semelhante? Põe-se a ruminar projectos e azedumes durante mais cem anos!...Tenho a certeza!»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 381
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