sábado, 29 de agosto de 2015

DOUGLAS MORRISON
                   JAMES
                 1943-1971


cogumelos vermelhos com pintas brancas cresciam
       livremente sobre a sepultura
estava inchado mas os seus olhos perdidos algures no
       Pacífico
conservavam o mesmo brilho de sempre


Instalei-me o melhor que pude tinha chovido há
       pouco e a relva estava molhada


Premi o botão do gravador e
      fiz-lhe a primeira pergunta: - Jim
segundo a Agência Noticiosa do Paraíso ocorreram
      incidentes lamentáveis durante o teu último
      concerto
em Jerusalém
que te masturbaste freneticamente para cima da
      assistência enquanto entoavas um salmo do
      Antigo Testamento
-O espectador é um animal agonizante-
     comentou -
foi uma reacção contra o onanismo de Deus
-O que é a loucura Jim?
-É teres-te esquecido da mala de viagem no útero
        da tua mãe
e quereres voltar atrás para a recuperar
ou semeares arroz nas planícies dos teus olhos quando
       já não há lágrimas para chorar
Passei então a explorar
a sua infância em Melbourne na Florida os tempos
       do Whiskey a Go-Go em Los Angeles
as suas ligações mal conhecidas com o profeta Isaías
-Jim a como está o grama de marijuana no Paraíso?
-A um dólar e dez cents - disse ele.
-Jim uma última pergunta
Que sentido faz um poeta depois de morto? ... -
Não cheguei a ouvir a sua resposta porque entretanto
      acordei
estava deitado na minha cama os primeiros raios de
      sol penetravam como que a medo pelas frin-
      chas das persianas
um pássaro cantava no telhado




Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 51/2

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