sexta-feira, 27 de maio de 2016

John Hoagland, El Playon, well-known location where bodies of the disappeared are often found, Sonsonate, 1980


“Não há melhor remédio para a tristeza do que chorar” (Santos, 2000, p. 32). E zangar-se também.
“No princípio da minha carreira de psiquiatra, há muitos anos, fui chamado para ver uma senhora que estava num estado de depressão, de angústia, de perplexidade, de sideração extremamente impressionante. Tinha-lhe morrido um filho (...) E eu fiquei bastante desarmado perante aquilo, sem saber o que havia de fazer (...) fiquei ali, com vontade de chorar talvez, ou pelo menos muito impressionado, a ouvir a senhora.(...) e ouvi-a, ouvia-a, muito tempo, muito tempo, muito tempo, até que ela começou a chorar...E então ela contou-me, contou-me depois, que já não chorava havia muitos meses, desde que tinha sido feito o diagnóstico e ela sabia que o filho ia morrer. E então de certa maneira agradeceu-me por eu lhe ter permitido chorar, por a ter deixado chorar” (Santos, 2000, p. 32).
Excerto do filme "Ordinary People".
Santos, J. (2000). Se não sabe porque é que pergunta?.
Conversas com João Sousa Monteiro. Lisboa. Assírio & Alvim.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

“Everything that is tearing us down today will become a memory, and this memory will be shared as an anecdote or a story or a poem or a play or a warning. It will be shared with another human being, who will then understand that he is not alone in his sadness. This is why we show up for others and tell our tales and listen to others. The great congregation meets daily, and you are someone’s angel today.”



Tennessee Williams/Interview with James Grissom

quarta-feira, 25 de maio de 2016

4


Descrente,
limitei-me no espaço e no tempo,
                                  no espaço e no tempo...

Há em mim
desejos de distâncias e nuvens,
de cavalgar através de desertos,
falcão em riste e rédea solta,
o sangue turbulento!

Descrente,
limitei-me no espaço e no tempo,
                                     no espaço e no tempo...
............................................................................

Mas se me limitei no espaço e no tempo,
                                                no espaço e no tempo!...


Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 72

«A verdade é morrer,

A verdade é sofrer!»


Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 70

(...)

«eu procuro encontrar-me
querendo ser igual aos outros!»


Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 65

    «Dai-me um rosário
para desfiar ao vento!...»

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 65

''cemitérios luarentos''


Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 53

''seios sem cor''


«Em cada dia se morre
uma pequena morte...
E as estações sucedem-se!»

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 41
«(O nosso exílio
                                  começou no ovário!)


Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 29

corações e almas de luto...

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 28
(...)

« se a ferida ainda não cicatrizou
e a dor ainda queima,»

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 26

''braços nús''

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001.

EM CADA DIA SE MORRE...

Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001.

domingo, 15 de maio de 2016


''a neve cortada''

« a minha camisa de morte mudei-a cada dia.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 79
não são contas do teu rosário não tens nada com isso, isso não te diz respeito

vejam os ares daqueles que estão acima das vossas
                                                                                          cabeças,
os seus olhos cordialmente preocupados, sorrindo para
                                                                                       as objectivas;
vejam as têmporas espiritualizadas, atrás das quais
o extermínio das vossas cidades é ensaiado;
vejam as mãos tratadas, que com pena dourada
ordenam: a terra sob a roda!

absolvam, senhores juízes, o jovem assassino!
sentem-no na cadeira curul, ele será connosco
mais misericordioso.


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 65

senhas-de-racionamento

tiranódoas

«parteiro da própria morte,»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 41

(...)

«                                         viver
e deixar viver. mas humildade e medo
em doses saudáveis.»

Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 37

(...)

«interioridade, trágica, ser incompreendido
nas mansardas.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 35

“MACBAIN”, adaptação da peça “Macbeth” de William Shakespeare



(...)

«não. és-me indiferente. não cheiras bem.
tipos como tu não faltam.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 27

rum

«(...) ofereçam as fitas às putas, para se enfeitarem.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 23

utopia

o dia sobre com grande força
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,

Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15

sábado, 14 de maio de 2016

rebuçadeira

Pára-me de repente o pensamento / Suddenly my thoughts halt


Género: Documentário / Documentary
Realizado por: Jorge Pelicano
"Mal vai, quando em todo o lugar surgem certezas; é o noivado com a morte."

Agostinho da Silva, Considerações

segunda-feira, 9 de maio de 2016

I just want to be wonderful.


"Agora, és outra pessoa,
cheia de banalidades e pequenas alegrias.
O tempo e a distância encarregaram-se disso.
Sim, na minha ausência é costume desmoronarem-se
as encostas, outrora cuidadosamente escoradas.
Mas, mesmo colocando de parte o meu ego,
é evidente o encanto da normalidade,
da paz doméstica e social
e do correcto dimensionamento de cada um,
sem megalomanias nem paióis de pólvora seca,
sem insónias nem gritos
nem fantasmas de grandes artistas e pequenos ditadores
(ou vice-versa)
a correrem pela casa.
Não gosto de gatos nem de crianças,
de celebrações colectivas e famílias,
de prolongadas distensões estivais,
nem sei estar indubitavelmente presente,
como o frasco dos picles, na prateleira de baixo do armário.
Nunca soube nem fingi saber – conceder-me-ás isso,
assim como reconheço que nunca, sequer, senti culpa
por todos os pecados que pequei e pecarei
enquanto o tabaco não me paralisar os pulmões.
Os meus dias são feitos de excessos e vazios
e o vazio excessivo é a própria matéria por que pugno
o muito tempo todo em que não me calha compor
estas vagas linhas sobrepostas
a que insistem em chamar poesia
mas que são apenas a minha maneira de bocejar sem sono.
Era impossível permanecermos juntos –
dizem-mo a razão e a urgência de um impulso vital
para qualquer coisa só por ser a seguinte. No entanto,
uma mágoa moinha-me a pequena hélice do coração,
enquanto, à pressa, trinco uma sandes de mundo
na cantina do niilismo (ou vice-versa)
ou conduzo um carro de vento rumo ao Magreb medieval.
Das horas que passámos juntos não há remissão
e isso consola-me como nada mais, num recanto
muito fotogénico da memória ou talvez disso a que se chama alma.
Espero que esta te vá encontrar bem,
com meninos à ilharga, um marido que leia
o Diário de Notícias e romances históricos
e, apesar de tudo, um sorriso
ante a imensa precisão com que coloco uma mão toda
nas feridas dos outros
para evitar o ardor da tintura de iodo
nas minhas."

Miguel Martins
7/5/2016

sábado, 7 de maio de 2016

Pára-me de repente o pensamento

Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.

Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'

Cómo tranquilizar a un ave caída (Por Carlo Horacio Balandra)

Las aves pueden elegir desplomarse,
Marcan rutas, y se desvían a placer.
Ellas pueden estrellarse en las ventanas,
si así lo desean.
Pueden ser pilotos con vista cansada;
pueden replegarse y caer por voluntad propia.
Un mágico día, bien podría un ave pequeña,
caer en tus manos.
Pocas veces, las aves,
son capaces de sentirse cómodas en manos humanas.
- No vale perseguirla y atraparla -
Debe llegar por necesidad
a dejarse morir entre tus dedos o
a descansar después de una persecución.
Puede recurrir a tu serenidad
para calmar el dolor
que le provoca su livianidad.
Se decolorará llorando.
Se escuchará su sollozo,
y muy remotamente, se vern las lágrimas rodar por el pico.
Ahora entonces...
...Acércala a tu aliento,
calma con tu cercanía su dolor invisible
No hables.
No puede entender las palabras.
Los tonos son tan bajos,
que sólo parecen ruido.
Silénciate.
Exhala muy cerca de ella,
hasta crearle una sola memoria en esa mentecita.
Puede olerte.
Y jamás olvidar tu aroma.
Un ave no puede sentir su peso mientras la sostienes,
sin embargo, si la conservas suficiente tiempo,
hasta que muera
o hasta que se recupere...
...Es posible que pueda sentir: cuán ligera es.

quarta-feira, 4 de maio de 2016



"falemos dos suspiros dos pássaros breves
habitando as àrvores da noite
contemplemos as paixões lúcidas das ruas escuras pela luz
dos candeeiros derramada em redor das paredes
e sigamos em frente sem nos determos
nos nós das portas ou nas frestas das persianas
como se afinal não importasse mais nada"


-"Os Pássaros Breves"
- José António Gonçalves
- Átrio, 1995 (1a Edição)


"O que atrai o leitor para o romance é a esperança de que a morte, que lhe é comunicada pela leitura, possa aquecer a sua fria vida"

-"Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política"
- Walter Benjamin
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