Mostrar mensagens com a etiqueta 2014. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 2014. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 29 de setembro de 2015

domingo, 2 de fevereiro de 2014

AUSCHWITZ

Lá em baixo, em Auschwitz, longe do Vístola,
amor, ao longo da planície nórdica,
num campo de morte: fria, fúnebre,
a chuva na ferrugem dos postes
e os enredos de ferro dos recintos:
e não há árvore ou pássaros no ar cinzento
ou acima do nosso pensamento, mas inércia
e dor que a memória deixa
ao seu silêncio sem ironia ou ira.

Tu não queres elegias, idílios: só
razões da nossa sorte, aqui,
tu, branda aos contrastes da mente,
incerta a uma presença
clara da vida. E a vida está aqui,
em cada não que parece uma certeza:
aqui escutaremos chorar o anjo o monstro
as nossas horas futuras
badalar o além, que é aqui, em eterno
e em movimento, não numa imagem
de sonhos, de possível piedade.
E aqui as metamorfoses, aqui os mitos.
Sem nome de símbolos ou de um deus,
são crónica, lugares da terra,
são Auschwitz, amor. Como de súbito
se esfumou em sombra
o querido corpo de Alfeu e de Aretusa!

Daquele inferno aberto por uma inscrição
branca: «O trabalho vos libertará»
saiu o fumo contínuo
de centos de mulheres empurradas fora
dos canis ao amanhecer contra o muro
do tiro ao alvo ou sufocadas gritando
misericórdia à água com a boca
de esqueleto sob os chuveiros a gás.
Encontrá-las-ás tu, soldado, na tua
história em formas de rios, de animais,
ou és também tu cinzas de Auschwitz,
medalha de silêncio?
Ficam longas tranças fechadas em urnas
de vidro ainda cerradas por amuletos
e infinitas sombras de pequenos sapatos
e de xales de hebreus: são relíquias
de um tempo de sageza, de sapiência
do homem que se faz medida de pelas armas,
são os mitos, as nossas metamorfoses.

Nas planícies onde amor e pranto
apodreceram e piedade, debaixo da chuva,
lá em baixo, pulsava um não dentro de nós,
um não à morte, morta em Auschwitz,
para não repetir, daquela cova
de cinzas, a morte.

AUSCHWITZ
Laggiù, ad Auschwitz, lontano dalla Vistola,
amore, lungo la pianura nordica,
in un campo di morte: fredda, funebre,
la pioggia sulla ruggine dei pali
e i grovigli di ferro dei recinti:
e non albero o uccelli nell’aria grigia
o su dal nostro pensiero, ma inerzia
e dolore che la memoria lascia
al suo silenzio senza ironia o ira.

Tu non vuoi elegie, idilli: solo
ragioni della nostra sorte, qui,
tu, tenera ai contrasti della mente,
incerta a una presenza
chiara della vita. E la vita è qui,
in ogni no che pare una certezza:
qui udremo piangere l'angelo il mostro
le nostre ore future
battere l'al di là, che è qui, in eterno
e in movimento, non in un'immagine
di sogni, di possibile pietà.
E qui le metamorfosi, qui i miti.
Senza nome di simboli o d'un dio,
sono cronaca, luoghi della terra,
sono Auschwitz, amore. Come subito
si mutò in fumo d'ombra
il caro corpo d'Alfeo e d'Aretusa!

Da quell’inferno aperto da una scritta
bianca: " Il lavoro vi renderà liberi "
uscì continuo il fumo
di migliaia di donne spinte fuori
all’alba dai canili contro il muro
del tiro a segno o soffocate urlando
misericordia all’acqua con la bocca
di scheletro sotto le doccie a gas.
Le troverai tu, soldato, nella tua
storia in forme di fiumi, d’animali,
o sei tu pure cenere d’Auschwitz,
medaglia di silenzio?
Restano lunghe trecce chiuse in urne
di vetro ancora strette da amuleti
e ombre infinite di piccole scarpe
e di sciarpe d’ebrei: sono reliquie
d’un tempo di saggezza, di sapienza
dell’uomo che si fa misura d’armi,
sono i miti, le nostre metamorfosi.

Sulle distese dove amore e pianto
marcirono e pietà, sotto la pioggia,
laggiù, batteva un no dentro di noi,
un no alla morte, morta ad Auschwitz,
per non ripetere, da quella buca
di cenere, la morte.

Salvatore Quasimodo
Powered By Blogger