Mostrar mensagens com a etiqueta Keats. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Keats. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

_beauty that must die

Keats

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ode à indolência

Eles não trabalham,
nem fiam.

S. Mateus, VI, 28



Surgiram, numa manhã, diante de mim três formas
de perfil, com cabeças inclinadas e as mãos juntas.
Uma atrás das outras, serenamente, elas passavam
com silenciosas sandálias, ornadas apenas dos seus vestidos
brancos;
assim caminhavam como as figuras inscritas numa urna de
mármore
enquanto a voltamos, para que nos mostre a sua outra face.
E, de novo, apareceram: como se principiássemos a deslocar
mais uma vez a urna e, depois, olhássemos as mesmas
imagens.
Eram para mim desconhecidas; também para os que não
ignoram
a arte de Fídias, por vezes são misteriosas as figuras de cada
vaso.

Sombras, porque me foi impossível reconhecer-vos?
Porque surgistes ocultas por essa máscara de silêncio?
Foi, acaso, graças a um acordo secreto e furtivo
que vos esquivastes, deixando que sem destino se percam
os meus dias inúteis? Amadurecida estava a hora que se
desprendeu;
o ditoso nevoeiro que nasce da indolência estival
afogou-me os olhos; o meu pulso ficou ainda mais lento;
a dor já não me feria e a grinalda do prazer perdeu as suas flores.
Oh, porque não vos desvanecestes, deixando a minha
consciência
vazia de qualquer desígnio, a não ser o do nada.

Porque viestes de novo, tão lentas, ao meu encontro?
O meu sono fora tecido com imagens obscuras;
era a minha alma semelhante a uma planície aspergida
de flores, sombras agitadas e indistintas luzes;
as nuvens permaneciam sobre a manhã, mas a chuva não
caiu
apesar de se verem nas suas pálpebras as suaves lágrimas de
Maio;
pela janela aberta, junto de uma vinha cheia de novas folhas,
entrava a canção de uma ave, o calor das flores que nasciam.
Sombras! Foi este o momento em que vos despedistes
e, sobre a orla dos vossos vestidos, não desceu o meu
pranto

Vieram ainda uma terceira vez e, passando, cada uma
voltou para mim, durante um instante, a sua face.
Depois desapareceram; para persegui-las, sentia arder o
desejo
de ter asas, porque reconheci cheio de dor aquelas três
sombras.
A primeira era uma formosa donzela, e chamava-se Amor;
a segunda era a Ambição, de rosto pálido,
cujos olhos fatigados permaneciam sempre em vigília;
e a última, aquela que eu amei tão veementemente
apesar de todas as condenações, era a virgem indócil
em que reconheci a Poesia, meu demónio.

Assim desapareceram e, naquele momento, como queria ter
asas.
Ó loucura! Que significa o Amor, e onde encontrá-lo?
E a Ambição, que nasce apenas dum acesso de febre
e atravessa, sem se demorar, o coração estreito do homem.
Nem sequer te desejo, Poesia: a mim, nunca vieste mostrar
a alegria, tão suave como os meios-dias sonolentos
ou o anoitecer molhado pelo mel da indolência.
Ah! como gostaria de viver protegido de todos os desgostos
até esquecer qual é o movimento das luas
ou deixar de ouvir as vozes dos outros, sensatas e diligentes.

Adeus, três sombras, adeus! Não podereis fazer com que
levante
a minha cabeça, apoiada sobre a erva florida e tão fresca,
porque não quero ser, como numa parábola, o cordeiro que
todos vêm acariciar,
ou que se transformem os elogios no meu alimento.
Desaparecerei suavemente diante dos meus olhos, e mais
uma vez
transformai-vos em personagens obscuras sobre a urna do
sonho.
Adeus! Para a noite existem dentro de mim outras visões
e, para o dia, guardo ainda indistintas imagens.
Sombras, dissipai-vos agora. Longe da indolência do meu
espírito
caminhai para as nuvens, e nunca mais regresseis...

Keats
in Poesia Romântica Inglesa (Byron, Shelley, Keats)
Relógio D'Água, 1992
Trad: Fernando Guimarães

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ode à melancolia

Não, não te aproximes do rio Letes, nem queiras
recolher
o vinho venenoso do acónito, cujas raízes estão entrelaçadas;
evita que a tua fonte pálida se deixe beijar
pela beladona, as vermelhas bagas de Prosérpina;
não teças o teu rosário com as sementes dos cipestres,
nem deixes que o escravelho ou a borboleta nocturna
sejam a tua fúnebre Psique, ou que se torne o mocho,
de penugem tão macia, o confidente da tua dor misteriosa
- porque, unida às outras sombras, uma sombra virá
cheia de torpor
e há-de extinguir, dentro da tua alma, uma angústia vigilante.

Mas se, inesperado, o acesso de melancolia descer
do céu, como se fossem as lágrimas de uma nuvem
que reanima as flores, cujas hastes tristemente pendiam,
e as verdes colinas oculta sob um véu primaveril,
então, deixa que se tranquilize a tua dor sobre uma rosa
matinal,
sobre o arco-íris que surge junto às vagas e à areia salgada
ou sobre o esplendor esférico das peónias;
ou se, cheia de delícia, aquela que tu amas se exalta,
pega na sua mão delicada, deixa que ela delire
e bebe nos seus incomparáveis olhos, longamente.

Como ela vive a beleza - a beleza que deve morrer,
e a alegria cuja mão se leva aos lábios
para dizer adeus; e, próximo, fica o doloroso prazer
que se transforma em veneno quando as abelhas dos lábios o
aspiram.
Sim, no interior do próprio templo da alegria
está o altar soberano da melancolia, coberta de véus,
apenas visível para aquele que consegue provar
as uvas da alegria, com um impetuoso e puro desejo;
mas o seu espírito depois há-de sentir amargamente
o poder que ela tem ao ficar entre os seus troféus
nebulosos...

Keats
in Poesia Romântica Inglesa (Byron, Shelley, Keats)
Relógio D'Água, 1992
Trad: Fernando Guimarães

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Endymion

...

Quem, entre os homens, pode dizer
que se abririam as flores ou os frutos verdes se
arredondariam
numa polpa macia, os peixes teriam as suas brilhantes
escamas,
a terra receberia o seu dote de rios, bosques e vales,
os prados os seus ribeiros, os ribeiros os seus seixos,
a semente as colheitas ou o alaúde a sua música
se nunca se reunissem e beijassem as almas humanas?

Keats

Sobre os poetas....

Keats, que pertenceu à segunda geração dos poetas românticos ingleses, ao longo de uma das suas cartas, diz o seguinte: « Um poeta é o ser menos poético que existe, porque não possui nenhuma identidade. Encontra-se constantemente na eminência de se tornar ou ser uma outra personalidade. O sol, a lua, o mar, os homens e as mulheres, todos estes seres submetidos aos seus próprios impulsos, são poéticos e mantêm um atributo qualquer imutável; o poeta não tem nenhum, permanece sem identidade.»
Powered By Blogger