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quarta-feira, 22 de junho de 2016

«Adoeceu a sua mente de lascívia.
Na sua boca ficaram os beijos.»


Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 43

ANTES DE O TEMPO OS MUDAR

Entristeceram grande mente            no momento da sua separação.
Eles não a queriam;                       foram as circunstâncias.
Necessidades vitais                      fizeram um deles
ir embora para longe -                                Nova Iorque ou Canadá.
O seu amor não era                   por certo como dantes;
tinha diminuído                   a atracção gradualmente,
tinha diminuído                   muito a sua atracção.
Mas separar-se,                   não o queriam.
Foram as circunstâncias.-                    Ou porventura artista
foi a Sorte                separando-os agora
antes de apagar-se o sentimento deles ,               antes de o Tempo os
                                                                                                                      [mudar;
o um para o outro             ficará sempre como se fosse
esse belo rapaz              dos vinte e quatro anos.


Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 41

O SOL DA TARDE

Este quarto, como o conheço bem.
Agora alugam-se quer este quer o do lado
para escritórios comerciais. A casa toda tornou-se
para escritórios comerciais. A casa toda tornou-se
escritórios de intermediários, e de comerciantes, e Sociedades.

Ah este quarto, não é nada estranho.

Perto da porta por aqui estava o sofá,
e diante dele um tapete turco;
 ao pé a prateleira com duas jarras amarelas.
À direita; não, em frente, um armário com espelho.
Ao meio a sua mesa de escrever;
e três grandes cadeiras de vime.
Ao lado da janela estava a cama
onde nos amámos tantas vezes.

Estarão ainda os coitados nalgum lugar.

Ao lado da janela estava a cama;
o sol da tarde chegava-lhe até metade.

De tarde quatro horas, tínhamo-nos separado
por uma semana só...Ai de mim,
aquela semana tornou-se para sempre.




Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 31
«porque tantas coisas havia a fazer lá fora por ti.
Quando construíram os muros como é que não reparei, ah.»

Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 27

«Não me manietei. Dei-me totalmente e fui.»

Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 13

«Desejo mais ver do que dizer.»

Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 9

« eu as minhas paixões não vou temer como cobarde.»

Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 9

«Vou partir para outra terra, vou partir para outro mar.»

Konstandinos Kavafis. 25 poemas. Edição Bilingue. Tradução do grego e notas por Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Cotovia., 1988., p 3

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ternura deslocada

 
  Plutarco na sua vida de Sólon, nota que a grande maioria das pessoas cujos corações estão quer por natureza quer por artifício fechados aos sentimentos ternos inspirados por afectos de qualquer espécie foi observada a conceder os seus sentimentos a objectos absolutamente indignos e desprezíveis. Esta teoria pode ser adequadamente ilustrada e confirmada pelos que amam apaixonadamente animais e raramente ganharam reputação de filantropos; e embora este não passe de um leve assunto de especulação, ainda assim oferece tantos exemplos que não deveria passar despercebido num trabalho que professe tratar não tanto de questões sérias quanto de questões leves de um modo sério.
   Lord Lytton, citando M. Georges Duval, diz-nos que a afeição por animais era um traço distintivo dos heróis sangrentos da Revolução Francesa. Couthon, ouvimos, estava grandemente preso a um spaniel que invariavelmente levava ao colo para a Convenção; Chaunette devotava as suas horas vagas a um aviário; Founier levava aos ombros um esquilo preso por uma cadeia de prata; «Panis mostrava a maior ternura por dois faisões dourados; e Marat, que não descontaria uma das três mil cabeças que pedia, criava pombas.» Billaud, diz Lord Macaulay, entretinha as horas solitárias dos seus últimos dias ensinando papagaios a falar.
   «A propósito do spaniel de Couthon, Duval dá-nos uma anedota divertida de Sergent, um dos não menos implacáveis agentes do massacre de Setembro. Uma senhora veio implorar a sua protecção para um dos parentes dele encarcerado na Abbaye. Quase não condescendeu em falar à senhora. Quando em desespero ela se retirava, pisou por acidente a pata do favorito spaniel. Sergent, voltando-se, enraivecido e furioso exclamou, 'Senhora, não tendes humanidade?'»
  Desumanidade com os humanos e humanidade com os animais num coração feminino (em que estes sentimentos contraditórios muitas vezes se encontram) é descrita no seguinte estilo por Mme Rieux: «Há certas mulheres que têm coração apenas para as bestas. O macaco da marquesa de ...mordeu tão perigosamente o braço de uma das suas criadas que se teve receio mesmo pela sua vida. Embora a marquesa ralhasse com o macaco e o proibisse de morder tanto outra vez, tiveram, contudo, de cortar o braço à criada. Alguns dias depois da sua cura, vendo a marquesa que não podia prestar os mesmos serviços que dantes, despediu-a prometendo que tomaria conta dela. Sendo censurada pela desumanidade deste acto, respondeu mal-humorada 'Mas que queriam que fizesse com aquela criada? Ela só tinha um braço.'»
   Umas linhas de juvenal podem servir de pendant a esta história:
«Um animal ocupa invariavelmente o primeiro lugar no coração de uma mulher que não ama nem o seu amante nem o seu marido. E a vida destes valeria muito pouco se o sacrifício dela salvasse a existência do seu cão, do seu gato ou da sua ave.»
 
 
 
 
Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 157/8
(...)
 
O veado encantado (o veado enfeitiçado) é o grande aterrador da imaginação simples dos camponeses na Grécia. É uma espécie de poder divino cheio de terrores sagrados. Traz a cruz nos galhos e o crescente (a Lua) no corpo; quando se abana as montanhas e os campos tremem; com as patas arranca as árvores; a alta voz é re-ecoada pelos mais altos picos das montanhas:
 
«Tem uma cruz nos galhos e uma lua no seu dorso.
Treme e tremem as montanhas, treme e tremem as planícies.
Ao mexer as suas patas muitas árvores arranca.
Falou com a voz aos guinchos, gemem as montanhas, ladeiras:
'Aqui onde cinco nem pisam e dez não atravessam,
Que procuravas sozinho armado e indo a pé?'»
 
       As tradições relacionadas com este veado são muito antigas e datam da era bizantina.
       Insectos encantados encontram-se aqui e acolá na Grécia. Existe uma lenda coríntia que descreve uma elevação escarpada entre Xylocastrum e Zura na qual um enxame de abelhas tinha estabelecido sua morada. Ninguém a não ser um destemido viajante tentou apanhar o mel dessa colmeia. Mandou que o baixassem com uma longa corda; contudo, no mesmo instante em que o baixaram uma extensão considerável foi visto contocer-se debaixo das maiores torturas pensando que a corda era uma cobra que procurava enredá-lo no seu abraço mortal. Incapaz por fim de suportar a tortura mental puxou da faca, cortou a corda e perdeu-se no abismo.
     Uma abelha vermelha encantada crêem os de Rodes que entra no quarto dos homens ou mulheres moribundos precisamente uma hora antes que eles ou elas expirem; e os de Samos falam das abelhas que fixam residência na casa do perjuro com um ruído inaudível a quaisquer outros ouvidos.»
 
 
 
 
Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 154

domingo, 30 de janeiro de 2011

Os Navios

       Da imaginação até ao Papel. É uma difícil passagem, é um perigoso mar. A distância parece curta à primeira vista, e embora seja assim quão longa viagem é, e quão prejudicial por vezes para os navios que a empreendem.
       O primeiro prejuízo provém da natureza assaz frágil das mercadorias que os navios transportam. Nos mercados da Imaginação a maior parte das coisas e as melhores são fabricadas de vidros finos e de cerâmicas transparentes, e com todo o cuidado do mundo muitas vezes se partem no caminho, e muitas vezes se partem quando as desembarcam para a terra. E todo o prejuízo deste género é sem remédio, porque é impensável que o navio volte atrás para recolher coisas da mesma forma. Não há hipótese de encontrar a mesma loja que as venda. Os mercados da Imaginação têm lojas grandes e luxuosas mas não de duração longa. As suas transacções são curtas, arrematam as suas mercadorias rapidamente e liquidam de seguida. É muito raro para um navio voltar e encontrar os mesmos exportadores com os mesmos géneros.
       Um outro prejuízo provém da capacidade dos navios. Partem dos portos dos continentes prósperos sobrecarregados, e depois quando se encontram em alto mar vêem-se obrigados a deitar para fora parte da carga para salvar o todo. De tal modo que quase nenhum navio consegue levar completos tantos tesouros quantos recolheu. As coisas despejadas são obviamente os géneros de menor valia, mas por vezes acontece que os marinheiros, na sua grande pressa, cometem erros e deitam ao mar objectos preciosos.
        Mal chegam ao porto branco do papel e são precisos outros sacrifícios de novo. Vêm os oficiais da alfândega e examinam um género e pensam se devem permitir o desembarque; recusam deixar que se descarregue um outro género; e de certas tralhas apenas aceitam pequena quantidade. Um lugar tem as suas leis. Nem todas as mercadorias têm a entrada livre e é estritamente proibido o contrabando. A importação de vinhos é impedida porque os continentes de que vêm os navios fazem vinhos e álcoois de uvas que crescem e amadurecem a temperatura mais generosa. Os oficiais da alfândega não querem para nada estas bebidas. São demasiado embriagadoras. Não são propícias para quaisquer cabeças. Para além disso existe uma companhia no lugar que tem o monopólio dos vinhos. Fabrica líquidos que têm a cor do vinho e o sabor da água, e deles se pode beber o dia inteiro sem que subam à cabeça. É uma velha companhia. Goza de grande reputação, e as suas acções estão sempre sobrevalorizadas.
         Devemos, porém, ficar satisfeitos quando os navios entram no porto mesmo que seja com todos estes sacrifícios. Porque ao fim de contas com vigia e com muito cuidado limita-se o número de recipientes partidos e atirados ao mar durante a viagem. Também, as leis do lugar e as normas alfandegárias são tirânicas em grande medida mas não de todo proibitivas, e grande parte da carga desembarca-se. Nem os oficiais da alfândega são infalíveis, e alguns dos géneros impedidos passam dentro de caixas fraudulentas em que se escreve uma coisa por fora e por dentro se tem outra, e importam-se alguns bons vinhos para banquetes excelentes.
        Triste, triste é outra coisa. É quando passam alguns navios enormes, com joalharias de coral e mastros de ébano, com grandes bandeiras desfraldadas brancas e vermelhas, cheios de tesouros, que nem sequer se aproximam do porto quer por todos os géneros que levam serem proibidos, quer por o porto não ter bastante profundidade para os acolher. E seguem o seu caminho. Vão de vento em popa sobre as suas velas de seda, o sol fulgura na sua figura de proa em ouro, e afastam-se tranquila e majestosamente, afastam-se para sempre de nós e do nosso porto constrito.
        Felizmente são muito raros estes navios. Apenas vemos dois, três durante a nossa vida inteira. E rapidamente os esquecemos. E depois de passarem alguns anos se algum dia - quando estamos inertes olhando a luz e ouvindo o silêncio - por acaso voltarem os nossos ouvidos mentais algumas estrofes entusiásticas, de início não as reconhecemos e atormentamos a nossa memória para recordar onde as tínhamos ouvido antes. Dificilmente acorda a antiga memória e recordamos que estas estrofes são do cântico que salmodiavam os marinheiros, belos como heróis da Ilíada, quando passavam os grandes, os excelsos navios e avançavam indo - quem sabe para onde.
 
 
 
 
 
Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 145-147
«Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.»

 

Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 144

Antes de o tempo os mudar

Entristeceram grandemente     no momento da sua separação.
Eles não a queriam;       foram as circunstâncias.
Necessidades vitais       fizeram um deles
ir embora para longe -        Nova Iorque ou Canadá.
O seu amor não era     por certo como dantes;
tinha diminuído       a atracção gradualmente,
tinha diminuído       muito a sua atracção.
Mas separar-se,     não o queriam.
Foram as circunstâncias. -     Ou porventura artista
foi a Sorte      separando-os agora
antes de apagar-se o sentimento deles,      antes de o Tempo os mudar;
o um para o outro       ficará para sempre como se fosse
esse belo rapaz      dos vinte e quatro anos.



Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 115

Em desespero

De todo o perdeu.            E agora adiante
dos lábios de um seu             qualquer novo amante
seus lábios demanda;        na união de um qualquer
seu novo amante        o engano demanda
de ser aquele rapaz,         a quem ele se entrega.

De todo o perdeu,      como se nem existisse.
Porque pretendia - ele lho disse -   pretendia salvar-se
do estigmatizado,        do mórbido prazer;
Ainda era tempo de -   ele lho disse - salvar-se.

De todo o perdeu,      como se nem existisse.
Por imaginação,       por alucinações
nos lábios doutros rapazes          os lábios dele demanda;
sentir procurando     seu amor de novo.



Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 111
E da tragédia o Verbo fulgurante
não tires nunca do teu pensamento -



Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 99
O corpo morto do herói com devoção e com tristeza Febo levanta-o e leva-o para o rio.
Lava-o do pó e do sangue;
fecha as feridas horríveis, sem deixar
que se veja nenhum traço; aromas
de ambrosia despejada sobre ele; e com esplêndidas
roupagens olímpicas o veste.
A sua pele branqueia; e com um pente de pérolas
penteia os cabelos todos negros.
Seus belos membros aforma e deita.


O Funeral de Sarpèdón




Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 91

Deslealdade

Ora nós, que elogiamos muita coisa em Homero, não louvaremos
uma [...] Nem Ésquilo, quando faz dizer a Tétis que Apolo, ao
cantar nos seus esponsais, exaltara a sua bela progénie

de vida isenta de doenças e de longa duração.
Depois que anunciou que de tudo, no meu destino,
cuidariam os deuses,

                                                                                                                   entoou o péan, para minha alegria.
                                                                                                                  Julgava eu que era sem dolo, Febo
                                                                                                                  a boca imortal, plena da arte dos oráculos.
                                                                                                                 E ele, o mesmo que cantou este hino,[...] 
                                                                                                                      [...] ele mesmo é que o matou,
                                                                                         
                                                                                                                  esse  filho que é meu.


Platão, República II (383a-b)



Quando casaram Tétis com Peleu
levantou-se Apolo no esplêndido festim
do casamento, e falou da ventura dos recém-casados
com o rebento que sairia da sua união.
Disse: A este nunca lhe tocará a doença
e terá vida longínqua. - Quando disse isto,
Tétis alegrou-se muito, pois as palavras
de Apolo que conhecia de profecias
lhe pareceram garantia para o seu filho.

E enquanto Aquiles crescia, e era
a sua beleza alarde da Tessália,
Tétis lembrava-se da palavra do deus.
Mas um dia chegaram velhos com notícias,
e disseram a chacina de Aquiles em Tróia.
E Tétis rasgava a sua roupa púrpura,
e arrancava de cima de si e atirava
ao chão as pulseiras e os anéis.
E por entre os seus prantos lembrou-se do passado;
e perguntou que fazia o sábio Apolo
por onde andava o poeta que nos festins
maravilhosamente fala, por onde andava o profeta
quando matavam o seu filho na flor da vida.
E responderam-lhe os velhos que Apolo
ele próprio desceu a Tróia
e com os troianos matou Aquiles.


 
Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 87-89

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Dias de 1903

Não voltarei a encontrá-los - esses tão depressa perdidos....
esses olhos poéticos, esse pálido
rosto....no anoitecer da rua....

Não os encontrarei mais - aos adquiridos inteiramente por acaso,
que tão facilmente deixei;
e que depois com ansiedade queria.
Esses olhos poéticos, esse pálido rosto,
aqueles lábios não os encontrei mais.



Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 71
«O Lanes a quem amaste não está aqui, Marcos,
no túmulo a que vens chorar, e ficas horas e horas.
O Lanes a quem amaste tu o que tens mais perto de ti
quando em tua casa te fechas e vês a imagem,
a qual um tanto conservou do que tinha que valesse,
a qual um tanto conservou do que tinhas amado.»


Túmulo de Lanes




Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 61

As coisas perigosas

Disse Myrtias (estudante sírio
em Alexandria; sendo reis
augustus Constans e augustus Constantius;
em parte gentio, e em parte cristianizante);
«Fortalecido com teoria e estudo,
eu e as minhas paixões não vou temer como cobarde.
O meu corpo aos prazeres vou dar,
aos deleites sonhados,
aos desejos eróticos mais audazes,
aos ímpetos lascivos de meu sangue, sem
medo nenhum, pois sempre que queira -
e terei vontade, fortalecido
como estarei com teoria e estudo -
nos momentos críticos hei-de encontrar
o meu espírito, como dantes, ascético.»




Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 43
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