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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Cada vez está mais vento, com mutações de Sol excessivas para os meus olhos que agora, com o ar, o sol e a cor, se fatigam. Eu explico. Trabalho muito com eles, fixando intensamente um ponto-paisagem antes de começar a escrever; depois, o decurso do texto depende do que essa concentração, num lugar vazio, permite. O olhar atento vai voltando a si mesmo e, então, o que eu consigo ouvir são as ondulações vibratórias entre esses dois pontos. Os meus olhos recebem, num ponto-voraz, as linhas que sustentam o espaço, feixes incidentes paralelos, raios que se afastam progressivamente, termos geométricos.
Lá onde estás, deve ser assim.
Nunca olhes o bordos de um texto. Tens que começar numa palavra. Numa palavra qualquer se conta. Mas, no ponto-voraz, surgem fugazes as imagens. Também lhes chamo figuras. Não ligues excessivamente ao sentido. A maior parte das vezes, é impostura da língua. Vou, finalmente, soletrar-te as imagens deste texto, antes que meus olhos se fatiguem. O milionésimo sentido da voz, "tiro o lápis da mão", o gesto de partir a luz, o pensamento de uma criança, cópias da noite, passeio nocturno, "era um dia verde", o afecto do negro, sob o lenço da noite. O indizível é feito de mim mesma, Gabi, agarrada ao silêncio que elas representam.

Maria Gabriela Llansol, «Um beijo dado mais tarde», Edições Rolim, 1990

sábado, 24 de outubro de 2015

"A imagem surge no fim do jardim.
É quase só negro, no início da perca de simetria.
Dickinson pede-lhe que não se mostre mais, e coloca um travessão na frase. Teme que esplenda demasiado na sua gravidade de imagem. E ela avança pudica, demasiado pudica para a vibração que os homens pedem. Apenas Aossê desperta. O espartilho da imagem quase negra confere-lhe uma configuração de bilha ou vaso. Volteia sobre si e, no contorno que desenha, Aossê vê ancas rodopiando lentamente. Com esse vocábulo, introduz um princípio de atracção.
Desata a cintura, pede Musil."
-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol
"haverá um objecto de beleza que corresponda a um objecto de amor? E não se pense que estou a referir alguém.
Não. Estou a interrogar-me sobre o sexo da paisagem, tão vivo, complexo e livre como os sexos humanos."
-"Onde Vais, Drama Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol
"Falo de fulgor porque a falta de claridade é essencial. a escuridão é propícia ao medo, ao pensamento e ao projectar. O descoberto e o escondido confundem-se, trocam de rosto. Entram em simetria. Quando o meu há é todo o que há que existe."

Viver com as imagens é a nossa arte de viver. Reparem, sem o fulgor não saímos da simetria. E nesta nada vemos. Vamos presumir uma saída. Veremos o que o nosso sexo sonha. E este sonha apenas a parte da simetria que lhe cabe. A outra parte pertence à imagem que vai tomando vida. Avançamos para ela e ela avança sobre nós. Esse movimento torna-nos obsessivos e inconstantes. Não podemos viver sem ele, mas a imagem não se mantém fixa. O fulgor desloca-se. Não podemos desejar o novo e querê-lo sem surpresa. Começa a irradiar do sexo e alteia-se. Do aqui evolui, difunde-se por todo o há que possamos admitir.

O desejo é escuro, diz Rimbaud.
Sujo, queres tu dizer, replica Aossê.
O desejo é divino, diz convictamente Hölderlin."

-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela LLansol
"os dentes na boca ordem a língua: o grito de dor explode,
e onde o prazer acolhia surge o dado amargo
move-se a dúvida que sobre o movimento
lança a interrogação insidiosa: entre suster o oxigénio impulsivo e
quebrar a vida ou queimá-la numa coluna escarpada e
apelas a morte em eco fulminante."


-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015



"quantas vezes falamos sem nada dizermos do que é real,
mas sem desconhecermos um só instante essa realidade. Um entretém"



Maria Gabriela Llansol, Onde Vais, Drama-Poesia?, p.94.

sábado, 12 de outubro de 2013

«aqui, no cabo Espichel, mostrou-me um rochedo o primeiro sinal de que escrever é pouca coisa e que, fechado o livro, é bem maior a abundância da sombra do que o que foi possível iluminar; não porque a perfeição seja calar mas há, talvez, no fim, a paixão do amor sem vestígios, o passeio vagaroso por uma neve que cubra todas as referências e que se ofereça a si própria como a mais alusiva das nossas contemplações.»


Maria Gabriela Llansol. Causa Amante. A Regra do Jogo, Edições., p. 25

«eu conheço apenas algumas coisas, e ignoro outras;»

Maria Gabriela Llansol. Causa Amante. A Regra do Jogo, Edições
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