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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

«A noite que eu aprisionara, abriu as asas e fugiu.»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 116

«Os ventos adormecidos ameaçam-nos com a tempestade; nada de bom pressagiam as nuvens.
   As águas silenciosas esperam o vento.
   Apresso-me a atravessar o rio antes de me surpreender a noite.»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 112
«Decepcionado e fatigado, retomo o meu caminho.
  Como havia o corpo de tocar a flor que só o espírito pode tocar?»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 79
«Deixa-me sentar ao teu lado e ordena aos meus lábios que façam o seu dever, no silêncio da noite, à claridade difusa das estrelas.»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 65

XXXV


    Tu brincas comigo com medo de que eu aprenda a conhecer-te com demasiada facilidade.
     Para ocultares as tuas lágrimas, deslumbras-me com as tuas risotas.
     Conheço os teus artifícios.
     Nunca dizes aquilo que quererias dizer.

     Escapas-me por mil maneiras com receio de que te não aprecie.
     Conservas-te sozinha, afastada de todos, com medo de que confunda com a multidão.
     Conheço os teus artifícios.
     Nunca tomas o caminho que quererias tomar.
    
     Tu pedes mais do que as outras e é por isso que tu és silenciosa.
     Com alegre despreocupação evitas as minhas dádivas.
     Conheço os teus artifícios.
     Nunca tomas o que quererias tomar.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 60

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

   «Os teus lábios estão amargos e doces como o vinho da minha dor.»




Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 53
«Apertarei contra o meu seio a tua cabeça, e aí na doce solidão, falarei baixinho ao teu coração. Fecharei os olhos e ouvir-te-ei. Não fitarei o teu semblante.»




Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 52

XXVIII

    É triste o teu ansioso olhar. Quer conhecer o meu pensamento.
    Também a lua quer penetrar o mar.
    Conheces toda a minha vida. Nada te ocultei. Eis porque ignoras tudo a meu respeito.
    Se a minha vida fosse uma pérola, parti-la-ia em mil pedaços, e desses pedaços faria um colar que te poria no pescoço.
    Se a minha vida apenas fosse uma flor, suave e diminuta, colhê-la-ia da sua haste para a pôr nos teus cabelos.
    Mas, oh minha amada, ela é um coração. Quais os seus limites?
    Tu não conheces os limites deste reino e, contudo, és a rainha dele.
     Se o meu coração só fosse prazer, vê-lo-ias florir num ditoso sorriso e de golpe o penetrarias.
     Se ele só fosse sofrimento, derreter-se-ia em límpidas lágrimas, reflectindo silenciosamente o seu segredo.
     Mas, minha bem-amada, ele é amor.
     São ilimitados o seu prazer e a sua mágoa.
São eternas a sua miséria e a sua riqueza.
     Ele está tão perto de ti - com a tua própria vida, mas tu nunca o conhecerás todo.





Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 50/1

XXVII

     Crê no amor, mesmo quando ele é uma fonte de dor.
     Não feches o teu coração.
     Não, meu amigo, não posso compreender as tuas palavras, porque são obscuras.

     O coração fez-se para ser dado, oh minha amada, com uma lágrima e uma canção.
     Não, meu amigo, não posso compreender as tuas palavras, porque são obscuras.

     A alegria é frágil como uma gota de orvalho. Morre, sorrindo. Mas a angústia é tenaz e forte. Deixa despertar nos teus olhos um doloroso amor.
     Não, meu amigo, não posso compreender as tuas palavras, porque são obscuras.
     Prefere o loto desabrochar e morrer, a viver em botão um perpétuo inverno.
     Não, meu amigo, não compreendo as tuas palavras, porque são obscuras.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 49

XXVI


    Tomo o que tu de bom grado me ofereces: nada mais peço.
     Sim, sim, conheço-te, modesto suplicante: queres tudo quanto tenho.

     Se puder ter essa flor perdida, trá-la-ei de encontro ao coração.
     E se ela tiver espinhos?
     Sofrê-los-ei.
     Sim, sim, conheço-te, modesto suplicante: tu queres tudo quanto tenho.
    
      Um olhar dos teus olhos amorosos faria doce a minha vida por toda a eternidade.
      E se o meu olhar é cruel?
      Guardarei, no meu coração, o seu golpe.
      Sim, sim, conheço-te, modesto suplicante: tu queres tudo quanto tenho.




Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 48

XXIV


    Não sepultes dentro de ti, minha amiga, o teu segredo. Diz-mo só a mim baixinho.
    Murmura-me o teu segredo, tu que tens tão meigo sorriso. Ouvi-lo-á só o meu coração e não os meus ouvidos.
    A noite é profunda, a casa silenciosa, os ninhos das aves estão engolfados no sono.
    Diz-me o segredo do teu coração, por entre as tuas vacilantes lágrimas e os teus perturbados sorrisos.




Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 46
«Ele nada diz do que pensa.
  Apenas vem, mas para logo se ir embora.»


Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 42

terça-feira, 16 de agosto de 2011

« É um jogo alternado de dádivas e recusas, de confissões e mistérios; de sorrisos e de timidez e de inúteis e doces lutas.»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 35

Eu não pedia nada

«Eu não pedia nada. Eu ficava de pé, na orla do bosque, detrás da árvore.»



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 30
«Se corres para a morte insensatamente, vem, oh! vem ao meu lago.
 Ele é frio e insondavelmente profundo.
 E sombrio como um sono sem sonhos.
 Lá, nos abismos, não há noites, nem dias e os cantos são silenciosos.
 Vem, oh! vem ao meu lago se te quiseres abismar na morte.»




Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 29
«Em vão acendes a lâmpada que te ilumina ao vestires-te, - ela vacila e apaga-se com
o vento.
 Quem pode saber se as tuas pálpebras não estão enegrecidas pelo fumo? Os teus olhos
são mais sombrios do que as nuvens da chuva.
  Em vão acendes a lâmpada; ela apaga-se.»


Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 27

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

VIII

    Apagara-se a lâmpada ao pé do meu leito.
Pela manhã despertei com as aves.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 20
«Os seus cabellos teem flores pallidas e murchas; as notas das suas flautas são dolentes.»


Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 13
O SERVO

   Servir-te-hei quando descansas.
   Conservarei fresca a relva da vereda, por onde caminhas de manhã, onde a cada um dos teus passos as flores que desejam morrer abençoam o pé que as pisa. Embalar-te-hei nos ramos da septaparna, emquanto a lua, despertando cedo ao fim da tarde, se esforçará por te beijar o vestido, através das folhagens.
   Eu encherei de oleo odorifero a lampada que arde ao pé do teu leito e adornarei o teu tamborete com maravilhosos ornatos de sandalo e de pasta de açafrão.


A RAINHA

E que desejas tu para tua recompensa?

O SERVO

  Apenas a liçença de apertar nas minhas mãos, os teus punhos delicados, semelhantes a tenros botões de loto; de tingir a planta dos teus pés, com o succo encarnado das petalas do Ashoka e de colher n'ellas, n'um beijo, o grão de pó que por acaso lá se tenha perdido.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 6/7
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