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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

o sentimentalismo vergava-o, contra a sua vontade

« (...), mas saboreei, como um cão esfaimado, a migalha de calor, o gole de afeição, o naco de apreço. Enternecido, o Lobo das Estepes, Harry, mostrava os dentes num sorriso, escorrendo-lhe a baba pela goela ressequida; o sentimentalismo vergava-o, contra a sua vontade.»




Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 81
«Como se tinha apoderado de mim, assim tão lenta e sorrateiramente, aquela paralisia, aquele ódio contra mim e contra todos, aquele bloqueamento de todos os sentimentos, aquele humor agreste profundo e despeitoso, aquele antro de imundície do coração esvaziado e do desespero?»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 80

domingo, 4 de dezembro de 2011

''amado por ninguém''

Esse Lobo das Estepes tinha de morrer...

«Esse Lobo das Estepes tinha de morrer, tinha de pôr termo, pela sua própria mão, à sua odiosa existência - ou então, fundido no fogo mortal de uma renovada inspecção a si próprio, transformar-se, arrancar a máscara e recriar um novo eu. Ah! Este processo não era novo nem desconhecido, conhecia-o bem, já várias vezes o experimentara nos estádios de supremo desespero.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 73

«De neve sacio a minha goela ardente,
E a minha pobre alma ao diabo entrego.»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 72
«Supões, como Fausto, que duas almas já são demais para um só peito, e a acabam por despedaçá-lo.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 66

desnudação

«No entanto, no cúmulo da felicidade alcançada, Harry apercebeu-se subitamente de que a sua liberdade era uma morte, que estava sozinho, que o mundo o deixava sinistramente em paz, que ele próprio já não ligava nada às pessoas, aliás nem tão pouco a si próprio, que lentamente ia asfixiando numa atmosfera cada vez mais rarefeita de vedação e isolamento.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 53

sábado, 3 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma das características do Lobo das Estepes era ser um homem nocturno.

«Uma das características do Lobo das Estepes era ser um homem nocturno. Para ele a manhã era a pior hora do dia. receava-a e dela nunca lhe adviera nada de bom. Jamais, em manhã alguma da sua vida, estivera propriamente bem disposto, jamais, em hora alguma antes do meio dia, fizera qualquer coisa de bom ou tivera algum bom pensamento, jamais conseguira propiciar alegria a si próprio e a outros. Só com o decorrer da tarde ia lentamente aquecendo e animando, e fecundo, vivo, ocasionalmente ardente e jovial.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 51/2
«Era infeliz a maior parte do tempo, isso não vamos negar, e sabia também fazer infelizes os outros, sobretudo quando gostava deles e eles de si.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 49

Vieram-me então à memória os anos esquecidos da juventude...

«Vieram-me então à memória os anos esquecidos da juventude - como amava então essas noites sombrias e pesadas de outono e inverno tardio, e com que sofreguidão e embriaguês absorvia as impressões de solidão e melancolia!»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 35

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Este manuscrito

«Representa textualmente uma viagem através do inferno, viagem ora amedrontada, ora destemida, através do caos de um mundo espiritual obscurecido, empreendida com a firme determinação de cruzar o inferno de lés-a-lés, de oferecer o flanco ao caos, de suportar o mal até ao fim.»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 27
«Não, estou convencido que não se suicidou. Ainda está vivo, arrastando algures as pernas cansadas para subir ou descer as escadas de casas em nada suas, fixando algures, deliciado, soalhos de parqué com lustro puxado e araucácias impecavelmente cuidadas, passando os dias nas bibliotecas e as noites nas cervejarias ou preguiçando nalgum divã alugado, sentindo pulsar para lá dos vidros o mundo e as pessoas, sabendo-se excluído - mas não se mata, porque um rasto de fé lhe diz que tem de beber até à última gota aquele cálice, aquela amaldiçoada dor que tem no coração, e que é esse sofrimento que tem de lhe dar a morte.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 26

«Em vez de lhe aniquilarem a personalidade, apenas tinham conseguido ensiná-lo a odiar-se a si próprio.»

«Desde então e para toda a vida, era contra si próprio, contra esse objecto inocente e nobre que dirigia toda a genialidade da sua imaginação, toda a força da sua faculdade de pensamento, Pois ao desencadear antes de tudo e acima de tudo contra si próprio toda a acerbidade, todas as críticas, violências e repudiações de que se servia, era Cristo de pessoa inteira, era mártir de pessoa inteira. No que respeitava aos outros, ao mundo circundante, continuamente se esforçava, em luta das mais heróicas e sérias, por amá-los, fazer-lhes justiça, não lhes fazer mal, pois o ''amor ao próximo'' estava tão profundamente cravado nele como o ódio a si próprio; e assim toda a sua vida era um exemplo de que sem amor a si próprio também o amor ao próximo é impossível, que o ódio a si próprio é exactamente a mesma coisa que o egoísmo nu e cru, e acaba por gerar o mesmo sinistro isolamento, o mesmo desespero.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 17

«Apercebi-me de que Haller era um génio do sofrimento e que, no sentido de várias afirmações de Nietzsche, acumulara em si uma capacidade de sofrimento genial, ilimitada e terrível. Ao mesmo tempo reconheci que a base do seu pessimismo não era o desprezo pelo mundo mas sim o desprezo por si próprio pois, por impiedosa e destrutiva que fosse a crítica de pessoas ou instituições, nunca se excluía a si próprio de tal tratamento, e era contra si próprio que em primeiro lugar apontava a sua flecha, era a si próprio que antes de tudo odiava e reprovava.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 16

Harry Haller

«(...), e nas coisas do espírito mostrava a objectividade quase gelada, o sólido pensamento e o firme saber só próprio dos que são verdadeiramente intelectuais, despidos de toda a ambição, e jamais apostados em brilhar, persuadir ou ter a última palavra.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes.  Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 14
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