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terça-feira, 16 de agosto de 2011

«Em vão acendes a lâmpada que te ilumina ao vestires-te, - ela vacila e apaga-se com
o vento.
 Quem pode saber se as tuas pálpebras não estão enegrecidas pelo fumo? Os teus olhos
são mais sombrios do que as nuvens da chuva.
  Em vão acendes a lâmpada; ela apaga-se.»


Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 27

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

VIII

    Apagara-se a lâmpada ao pé do meu leito.
Pela manhã despertei com as aves.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 20
«Os seus cabellos teem flores pallidas e murchas; as notas das suas flautas são dolentes.»


Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 13
'O homem só ensina bem o que para ele tem poesia.'
Rabindranath Tagore
O SERVO

   Servir-te-hei quando descansas.
   Conservarei fresca a relva da vereda, por onde caminhas de manhã, onde a cada um dos teus passos as flores que desejam morrer abençoam o pé que as pisa. Embalar-te-hei nos ramos da septaparna, emquanto a lua, despertando cedo ao fim da tarde, se esforçará por te beijar o vestido, através das folhagens.
   Eu encherei de oleo odorifero a lampada que arde ao pé do teu leito e adornarei o teu tamborete com maravilhosos ornatos de sandalo e de pasta de açafrão.


A RAINHA

E que desejas tu para tua recompensa?

O SERVO

  Apenas a liçença de apertar nas minhas mãos, os teus punhos delicados, semelhantes a tenros botões de loto; de tingir a planta dos teus pés, com o succo encarnado das petalas do Ashoka e de colher n'ellas, n'um beijo, o grão de pó que por acaso lá se tenha perdido.



Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 6/7

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sandip

«O seu intelecto é vivo, apurado, mas a sua natureza é grosseira e, por isso, ele adorna com nomes ressonantes os seus desejos egoístas. As baixas consolações do ódio são-lhe tão necessárias como a satisfação dos seus apetites.»




Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 33/4
«Outro dia, quando Sandip me acusou de falta de imaginação e afirmou que tal carência me impedia de dar ao meu país uma imagem visível, Bimala concordou com ele. Decidi não dizer nada em minha defesa, porque vencer numa discussão não conduz à felicidade. A divergência de opinião da minha mulher não provém da desigualdade de inteligência e, sim, de dissemelhança de naturezas.
Acusam-me de não ser imaginativo - isto é, segundo eles, tenho óleo no candeeiro, mas não tenho chama. Ora, essa é, precisamente, a acusação que lhes faço. Podia-lhes dizer: «Sois escuros como as pederneiras, precisais de atrito violento e barulho para produzirdes as vossas centelhas: mas as suas chispas desconexas servem apenas para lisonjear o vosso orgulho e não clarificam a vossa visão.»





Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 33
«Bimala é impaciente com a paciência, gosta de encontrar nos homens turbulência, cólera, injustiça. No seu respeito por eles tem de haver um elemento de medo.»



Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 32
«Tenho um espinho cravado no coração, um espinho que não pára de me causar dor, enquanto me entrego ao trabalho diário, e que me parece nem sequer me dar tréguas quando durmo. Mal desperto, de manhã, vejo que o céu perdeu i fulgor. Que se passa? Que aconteceu?
O meu espírito tornou-se tão sensitivo que até a minha vida passada, que se me apresentara sob o disfarce da felicidade, parece arrancar-me o coração, com a sua falsidade. A vergonha e a mágoa que se aproximam cada vez mais vão perdendo o ar secreto, velado, e perdem-no principalmente porque tentam ocultar o rosto. O meu coração é todo olhos. Tenho de ver as coisas que não deveriam ser vistas, as coisas que não quero ver.
Chegou finalmente o dia em que a minha vida maltratada tem de divulgar a sua pobreza, o seu desamparo, numa longa série de revelações. Esta penúria tão inesperada instalou-se no coração onde parecia reinar a plenitude. O que paguei à ilusão durante nove anos, apenas, da minha juventude tem agora de ser pago com juros à Verdade, até ao fim dos meus dias.
De que me serve esforçar-me para conservar o meu orgulho? Que mal pode haver em confessar que falta em mim qualquer coisa? Talvez me falte a firmeza, a impetuosidade cega que as mulheres gostam de encontrar nos homens.»





Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 31

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

«-Vê, Nikhil, como a Verdade adquire carne e sangue no coração de uma mulher! - exclamou Sandip Babu. - A mulher sabe ser cruel, a sua virulência é como uma tempestade cega: maravilhosamente terrível. No homem é feia porque contém no seu âmago os vermes corrosivos da razão e do pensamento.

(...)


Vem, pecado, ó belo pecado!
Que teus esbraseantes beijos vermelhos derramem
ardente vinho tinto no nosso sangue!
Faz soar a trompa do mal imperioso
E atravessa na nossa fronte a coroa da exultante
ilegalidade!
Ó Deusa da Profanação,
Mancha sem vergonha o nosso peito com a mais
negra lama do descrédito!



Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 29
«Se fosse necessário preencher, pouco a pouco, o espaço entre o dia e a noite, levar-se-ia nisso uma eternidade. Mas o Sol nasce e as trevas dissipam-se, basta um momento para abarcar uma distância mínima.»


Negrito
Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 16

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

«Mas o meu marido recusava-me qualquer ensejo de o adorar. Aí residia a sua grandeza. Aqueles que exigem absoluta devoção por parte das mulheres, como um direito que lhes é devido, não passam de cobardes. Tal exigência é uma humilhação para ambos.
O seu amor por mim era uma tal enxurrada de riqueza e dedicação que parecia ultrapassar todos os limites. Mas eu precisava mais de dar do que receber, porque o amor é um vagabundo e, às vezes, as suas flores desabrocham melhor na poeira das bermas da estrada do que nas jarras de cristal nas salas.»
Rabindranath Tagore. A casa e o mundo. Trad. de Fernanda Pinto Rodrigues. Minerva de Bolso. 1ª ed., 1973, p. 9/10

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Há Muito Dura A Viagem...

Há muito dura a viagem
Da minha vida...
E a estrada
A percorrer é longa...

Comecei a jornada
Ao primeiro fulgor
Da luz no mundo...
Varei os desertos do mundo
Deixei o sinal de passos
Nas estrelas.

O mais longo caminho
É o que o leva mais perto.
E a mais severa disciplina
A que gera a mais doce harmonia.

É preciso bater a mil portas
Para encontrar a sua.
Correr os mundos todos
Para alcançar o tabernáculo sagrado...

- No horizonte sem fim perdi meus olhos
Antes de clamar: Ei-lo!
-Esta pergunta: Onde?
Funde no pranto de mil fontes.
-Um dilúvio de luz inunda o mundo
A esta palavra: Sou!

Tagore in Poesias de Tagore (O Músico e o Poeta). Cadernos da «Seara Nova» Secção de Estudos Literários. Prefácio e Trad. de Augusto Casimiro. Lisboa, Seara Nova, 1939

No fundo do teu ser / Quem trazes prisioneiro?

No fundo do teu ser quem trazes prisioneiro,
Sedento de mais luz? Quem vela? Quem dominas?
Anseia a claridade
Num soluçar desfeito.
Os seus olhos não vêem,
Embora a luz acenda
O céu a cada aurora.

Quem vela, encarcerado,
No fundo do teu ser?
O cântico da vida
Encanta o ar, em torno...
E lutas, no silêncio...

As aves, na floresta,
Cantam o novo dia
E as flores o triunfo
Da vida renovada.
-Se a luz do céu triunfa
-Porque há noite em teus olhos?

- A noite foi-se embora e, embora,
No teu cárcer estreito,
Arde ainda, na sombra,
A lâmpada nocturna.

-Porque andam tão ausentes
A tua casa e o mundo?
Quem trazes prisioneiro
No fundo de ti mesmo?

Tagore in Poesias de Tagore (O Músico e o Poeta). Cadernos da «Seara Nova» Secção de Estudos Literários. Prefácio e Trad. de Augusto Casimiro. Lisboa, Seara Nova, 1939
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