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sábado, 23 de junho de 2018

''(...) o supremacismo é a verdadeira divisão nos dias de hoje. E o nacionalismo é uma forma de supremacismo.''


De momento, exceto Portugal e Espanha, o racismo é o único ponto de entendimento entre os europeus. Nem mais nem menos: racismo. E não tem a ver com o medo do outro, da diferença. Tem a ver com a incapacidade de lidar com o passado colonial. A ideia que prevalece na Europa é que se ganha quando se é mais racista do que o outro. A Europa está fraturada e o discurso mantém-se: o Norte contra o Sul, [o grupo de] Visegrado contra Paris e Berlim… Enfim, apenas confluem num aspeto: rejeitar a imigração.''

Entre finais da década de 1970 e 2013, a taxa de suicídio aumentou 60% em todo o mundo, segundo dados da OMS. Como podemos explicar este aumento brutal?! O que aconteceu há 40 anos atrás? Como referi antes, Margaret Thatcher declarou que a sociedade não existe; paralelamente, o neoliberalismo eliminou a empatia da esfera social. Depois, a tecnologia digital começou a destruir a possibilidade do real, da relação física entre humanos; a emergência de Tony Blair é a prova de que a Esquerda morreu – refiro Blair por ser mais fácil de identificar, mas juntamente com ele estão muitos outros líderes. A Esquerda nunca foi capaz de equacionar alternativas como o RBI e outras, e embarcou no discurso neoliberal: pleno emprego, oito horas por dia, cinco dias por semana durante uma vida inteira. Isto é cada vez menos viável. O pleno emprego é algo impossível, o que temos é mais precariedade para todos, cortes nos salários para todos, mais trabalho para todos, em suma, uma nova escravatura. A isto somam-se dois aspetos importantes. Primeiro, a obrigação passou a ser parte integrante da nossa formação psicológica e a competição tornou-se no princípio moral universal. Segundo, passámos a julgar-nos em função do critério da produtividade. Existe apenas um modelo, um padrão, que é o da competição e sentimo-nos culpados de todos os nossos “fracassos”, seja ele o desemprego ou a pobreza. Há quem lhe chame auto-exploração.''

Esse tem sido o discurso dos líderes políticos nos últimos 40 anos, desde que Margaret Thatcher declarou que “a sociedade não existe”. Existem apenas indivíduos, empresas e países competindo e lutando pelo lucro. É este o objetivo do capitalismo financeiro. E com esta declaração foi proclamado o fim da sociedade e o início de uma guerra infinita: a competição é a dimensão económica da guerra. Quando a competição é a única relação que existe entre as pessoas, a guerra passa a ser o ‘ponto de chegada’, o culminar do processo. Penso que, em breve, acabaremos por assistir a algo que está para além da nossa imaginação…''

“Tecnologia comunicativa”, que preconiza a expansão da internet como fenómeno social e cultural decisivo. ''

''(...) o papel dos media e da tecnologia de informação no capitalismo pós-industrial, a precariedade existencial e a necessidade de repensarmos “o nosso futuro económico”.''

sábado, 4 de fevereiro de 2017

 El Alma del Trabajo: desde lá alienación a la autonomia (A alma do trabalho: da alienação à autonomia), Generación post-alfa. Patologías e imaginarios en el semiocapitalismo (Geração pós-alfa. Patologias e imaginários no semiocapitalismo), Héroes: asesinato de masa y suicidio (Heróis: assassinato de massa e suicídio) e Fenomenología del fin (Fenomenologia do fim)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

"Não te poderás considerar um verdadeiro intelectual se não puseres a tua vida ao serviço da justiça; e sobretudo se te não guardares cuidadosamente do erro em que se cai no vulgo: o de a confundir com a vingança. A justiça há-de ser para nós amparo criador, consolação e aproveitamento das forças que andam desviadas; há-de ter por princípio e por fim o desejo de uma Humanidade melhor; há-de ser forte e criadora; no seu grau mais alto não a distinguiremos do amor"

Agostinho da Silva, “Pelos vencidos”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 112.

domingo, 23 de fevereiro de 2014


«(...) Sabia-se que para curar uma doença da alma era preciso ser-se filósofo. Sabia-se que a origem dessas doenças não era outra coisa senão um desejo violento por uma coisa que o doente encara como um bem. O dever do médico consistia em provar ao doente, por meio de sólidas razões, que aquilo que o doente deseja com tal ardor é um bem aparente. Ora, o paciente só parece curado quando o estado arcaico da sua natureza profunda é atingido pelo medo de ser expulso da terra da sua verdade imediata.»




Agustina Bessa-LuísDoidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 181/2

domingo, 15 de dezembro de 2013

A felicidade só nos toca fugazmente.


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 119
«Deve-se distinguir entre as imagens externas e internas, que nós tomamos por ilusões, podendo, no entanto, assumir por fim uma forma convincente. Nos desertos, a transição era conseguida através de flagelações. Em mim ela era involuntária, e tinha perdido desde há muito o apetite. Que vivemos num deserto para cuja extensão de monotonia a técnica contribui de forma crescente, é a minha convicção de há longa data. Convém referir que a imaginação é estimulada pela monotonia.
   À noite, depois de escrever no escritório da «Terrestra», ou melhor, ainda em casa, fechava os olhos e a imagem da folha com os seus carecteres aparecia ao meu olhar interior. Isso correspondia à experiência comum, a escrita não era mais legível, tinha antes um efeito ornamental.
     Contudo a mim surgiam-me frases legíveis e mesmo aquelas que não estavam de acordo com o meu texto - comunicações como se fossem ditadas pela escrita automática. Na sua maioria eram desagradáveis «Tens as mãos sujas» ou «Os cães chamam-te» e também «Pensa em Liegnitz» e «Não conheceste Bertha bem». Frequentemente não sabia se as ouvia ou se as lia.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 118

Adão

«Adão  é um ser humano perfeito - nem homem, nem mulher, mas andrógeno como os anjos - a mulher saiu dele como a imagem de um sonho. O nosso desejo é apenas a percepção da perda, uma sombra desse primeiro grande desejo que criou.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 116
«Na alteração inquietante do nosso mundo, praticamente todos deviam conhecer este estado de espírito em que se começa a duvidar da razão. Talvez o todo não passe de um sono cheio de espectros.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 111

O meu sofrimento

«O meu sofrimento tinha origens corporais ou então, pelo menos, tinha a ver com o corpo. Não conseguia dormir, embora em casa e no escritório passasse o tempo a sonhar. Quando sentia dores de cabeça não conseguia comer e, por isso, bebia ainda mais. Era como se tivesse saído de mim próprio e, apenas à noite, quando me via ao espelho com a vela na mão esquerda, completamente bêbado, é que reconhecia a minha identidade. Nessa altura parecia-me que me tornara forte demais para mim mesmo.
   Agora só muito raramente é que estava com Bertha. Receava que ela ouvisse os meus monólogos. Ela queria que eu procurasse um médico, mais precisamente um psiquiatra. Este considerar-me-ia uma presa e enviar-me-ia de um colega para outro, até acabar num asilo de loucos. Para isso não precisava de ajuda.»




Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 106/107
«Para os letrados, os livros constituem o vestuário pelo qual eles se avaliam. Hume, Maquiavel, Flávio Josefo, Ranke, em longas filas de castanho dourado - existe um estado de espírito em que os livros irradiam imediatamente substância.»
 



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 83

sábado, 7 de dezembro de 2013

Reflectia

Reflectia: « E, no entanto, algo ficou. Descobre-se ao arranhar o verniz: uma tristeza como em Novembro, quando as folhas caem, a terra, por seu lado, começa já a germinar. Acredite em mim, sente-se aqui uma perda, uma necessidade adormecida que tudo move.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 80
«O homem sem história não conhece nenhuma paz, nenhum descanso eterno sobretudo.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 80

«Sou favorável a uma tirania, mas é evidente que não o posso dizer em voz alta.»

Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 68

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

«Depois de ter posto os livros de parte, cheguei à conclusão: és um niilista erótico. Qual o seu significado? Para dizer as coisas de uma forma mais simplificada, a mulher que mais aprecio é aquela cuja presença não me incomoda, aquela que não está presente. O que, como já referi, é um caso totalmente comum e era praticamente isso em mim que perturbava Bertha.»




Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 68
«Para melhor compreender Bertha torna-se necessário recorrer ao mito. Também os nossos  psicólogos e caracterologistas encontram aqui, frequentemente, sem disso se aperceberem, as suas bases. Um capítulo de Plutarco ou de Vico diz-me mais do que as suas tabelas de avaliação.
   O que nos ligava a Bertha e a mim, não era apenas o gosto mas também a paixão. Devemos a Stendhal a diferença, foi ele quem a determinou. À medida que a paixão diminuía, o bom gosto impedia que entre nós se gerasse uma desarmonia ao estilo de Strindberg. Não havia nem um outro homem, nem uma outra mulher. Afastávamo-nos um do outro, o que a ambos causava sofrimento - certamente que Bertha se perguntava, tal como eu, em que medida a culpa seria sua.
  Não deixou de fazer pequenas tentativas que as mulheres entendem melhor do que nós. A propósito de aniversários, por exemplo, que nós esquecemos mais facilmente que elas - porquê hoje as flores em cima da mesa? É verdade, era o aniversário da nossa primeira noite juntos. Outro dia era o meu prato favorito que era servido à refeição, ou então punha uma jóia barata oferecida por mim enquanto estudante. Eram recordações dos velhos tempos, nada mais nada do que recordações.
 
 
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  Mas o afastamento teria acontecido de qualquer forma, mesmo sem a profissão que me absorvia cada vez mais, e começava até a prejudicar a minha saúde, sobretudo quando a agência se revestiu de uma importância inesperada. Se se pudesse falar em culpa seria toda minha - do meu carácter que se revelara com a profissão; todavia, noutras circunstâncias, o tempo certamente teria actuado, obtendo o mesmo resultado. Como dizia um moralista, com a idade, não só se manifestam os perfis como também os caracteres, cujos contornos se desenham mais claramente.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 66/67
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