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segunda-feira, 14 de julho de 2014


quarta-feira, 19 de março de 2014

ÁGUA DA MORTE

São humanos, meus rios.
A lua aberta, resignada tela.
Os dedos que desfio
Descidos de um terror de vidro frio
Desperdícios de luz e de cratera.

Mas tudo, ó verde planta da manhã,
Dor de seiva insistente sob a neve,

Estremece geométricos destinos.
Noite de multidões. Serpente de marés.
Água. Água de morte. Água de sinos.

Assim, velha montanha me levantas.
Assim, vou para ti, rastejo, quero.
Assim desfiro a nota vertical
Desespero animal do desespero.

E não proíbam mais o retrocesso
Ao real abandono.
Não enfeitem os arcos de mentiras
No triunfo do sono.

E não digam: - «Tem tudo. Que mais quer?»
Seca de névoa, a água horizontal
Quer a nascente para bem-morrer,
E a cada passo atrás desaparecer.
Água de Morte.
                          Bíblica Mulher.
Estátua de sal.
 
(«A Segunda Imagem»)




Natércia Freire . Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 238/9
«Mas eu que me encontre contigo,
e que eu me encontre comigo!»


Natércia Freire . Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 236
«O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.»
 
Sophia de Mello Breyner Andresen  Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 225
«Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta»
 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen  Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 224

terça-feira, 18 de março de 2014

A ILHA DA GRANDE SOLIDÃO

(Excerto do poema)
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Altas horas acordo em sobressalto
na cabana de troncos mal cortados:
são uivos dos lobos e do vento,
misturados.
Um leve raspar de unhas na janela,
e lá vou eu, descalça e apavorada,
de candeia na mão,
abrir a porta a alguém
que entra, silencioso,
trazendo o vento, a noite, os lobos,
as aves assustadas,
e o fumo da giesta,
das estevas queimadas.
É um deus da Floresta.
É o deus da Floresta.
Depois, mais nada.
E embora o sonho se repita,
ano a ano,
jamais pude entender por que razão
eu me levanto
àquela hora morta
da ante-madrugada,
para lhe abrir a porta,
descalça e apavorada.
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Fernanda de Castro Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 190/1

segunda-feira, 17 de março de 2014

Medo

  Ouve o grande silêncio destas horas!
Tens no sorriso uma expressão magoada,
tens lágrimas nos olhos e não choras!
   As tuas mãos nas minhas mãos demoras
numa eloquência muda, apaixonada...
Se o meu sombrio olhar de amargurada
procura o teu, sucumbes e descoras...
   O momento mais triste duma vida
é o momento fatal da despedida.
-Vê como o medo cresce em mim, latente...
   Que assustadora, enorme sombra escura!
Eis afinal, amor, toda a tortura:
- Vejo-te ainda e já te sinto ausente.


Virgínia Vitorino Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 183

INGRATIDÃO

   Abri meu coração de par em par.
Dei-te um jardim de cravos e verbenas...
E quis que fosses rei, e foste apenas
um rei que nunca soube governar.
    Fui esfinge para mais te perturbar...
Em altitudes graves e serenas,
fiz perguntas, perguntas às centenas,
 - e nunca me soubeste decifrar!
   Fui um pouco de todas que conheces,
quis dominar-te eu só, quis que soubesses
como se aprende a amar uma mulher...
    Agora gostas doutra, e tanto, tanto!
Foi em mim que aprendeste a achar-lhe o en-
                                                                                       [canto
-E nunca mo soubeste agradecer!


Virgínia Vitorino Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 181
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