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domingo, 4 de março de 2012

LA NOTE

_Que n’ai-je un peu de voix ! J’ai le cruel ennui
De sentir mon poème en ma poitrine éclore,
Et dc ne pouvoir pas, plus créateur encore,
Comme j’ai mis mon cœur, mettre mon souffle en lui.

 _Le chant aérien laisse, après qu’il a fui,
Des lèvres jusqu’au ciel tin sillage sonore
Ou l’âme, rajeunie et plus légère, explore
Les paradis anciens qu’elle pleure aujourd’hui.

_La ilote est comme une aile an pied du vers posée ;
Comme l’aile des vents fait trembler la rosée,
Elle le fait frémir plus sonore et plus frais.
 _O vierges qu’effarouche un seul mot, le plus tendre,
Peut-être modulé daigneriez-vous l’entendre,
 Vous qui l’osez chanter sans le dire jamais !


Sully Prudhomme

domingo, 9 de outubro de 2011

«O crepúsculo excita os loucos. - Lembro-me que tive dois amigos a quem o crepúsculo punha muito doentes.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 66

XXI AS TENTAÇÕES OU EROS, PLUTO E A GLÓRIA

   «Dois soberbos Satãs e uma Diabinha, não menos extraordinária, subiram a noite passada a escada misteriosa por onde o Inferno dá assalto à fraqueza do homem que dorme, e comunica em segredo com ele. E vieram-se colocar gloriosamente diante de mim, de pé como sobre um estrado. Um esplendor sulfuroso emanava dessas três personagens, que assim tomavam relevo no fundo opaco da noite. Tinham um ar tão arrogante e tão cheio de importância, que eu a princípio tomei-os a todos por verdadeiros Deuses.
    O rosto do primeiro Satã era dum sexo ambíguo, e tinha também, nas linhas do seu corpo, a moleza dos antigos Bacos. Os olhos lânguidos, duma cor tenebrosa e indecisa, faziam lembrar violetas ainda cobertas de pesadas lágrimas da tempestade, e os lábios entreabertos, turíbulos acesos donde se exalava o bom odor duma perfumaria; e cada vez que ele suspirava, insectos almiscarados iluminavam-se, volitando, no ardor do seu bafo.
    Em volta da sua túnica de púrpura estava enrolada, à maneira de cinto, uma serpente cintilante que de cabeça erguida, languidamente voltava para ele os olhos em brasa. Duma tal cintura viva pendiam, alternando com garrafinhas cheias de sinistros licores, facas reluzentes e instrumentos de cirurgia. Na mão direita segurava outra garrafinnha cujo conteúdo era dum vermelho luminoso, e que tinha como etiqueta estas palavras bizarras: «Bebei, isto é o meu sangue, um perfeito cordial»; na esquerda, um violino que lhe servia sem dúvida para cantar os seus prazeres e as suas amarguras, e para espalhar o contágio da sua loucura nas noites de sabbat.
    Nos chifres delicados estavam alguns anéis de uma cadeia de ouro partida, e quando o incómodo que daí lhe vinha o obrigava a baixar os olhos para o chão, contemplava com vaidade as unhas dos pés brilhantes e polidas como pedras bem trabalhadas.
    Ele olhou-me com os seus olhos inconsolavelmente magoados, donde escorria uma insidiosa embriaguez, e disse-me com voz cantante: «Se tu quiseres, se tu quiseres, tonar-te-ei o senhor das almas, e serás dominador da matéria viva, mais ainda que o escultor o pode ser de argila; e conhecerás o prazer, sem cessar renovado de sair de ti próprio para esqueceres em outrem, e de atrair as outras almas até as confundires com a tua.»
    E eu respondi-lhe: «Muito Obrigado! eu nada tenho que fazer dessa pacotilha de seres que, sem dúvida, não valem mais que o meu pobre eu. Ainda que eu tenha alguma vergonha de me lembrar, nada quero esquecer; e mesmo que eu não te conhecesse, meu velho monstro, a tua misteriosa cutelaria, as tuas garrafinhas equívocas, as cadeias em que os teus pés estão enredados, são símbolos que explicam assaz claramente os inconvenientes da tua amizade. Guarda os teus presentes.»
     O segundo Satã não tinha nem aquele ar ao mesmo tempo trágico e sorridente, nem aquelas lindas maneiras insinuantes, nem aquela beleza delicada e perfumada. Era um homem vasto, com uma grande cara sem olhos, cujo pesado bandulho sobrepujava as coxas e cuja pele inteira estava dourada e ilustrada, como uma tatuagem, como uma multidão de figurinhas móveis representando as numerosas formas da miséria universal. Havia homenzinhos esguios que voluntariamente se suspendiam a um prego; havia gnomozinhos disformes, magros, cujos olhos suplicantes mais ainda pediam esmola do que as suas trémulas mãos; e depois, velhas mães trazendo abortos presos aos seios esgotados. E ainda muitas outras.
     O enorme Satã golpeava com o punho o seu imenso ventre, donde saía um ruído prolongado e metálico, terminando num vago gemido feito de numerosas vozes humanas. E ele ria, mostrando sem pudor os dentes estragados, com um enorme riso imbecil, como certos homens de todas as nações quando jantaram bem de mais.
      E este disse-me: « Eu posso dar-lhe aquilo que tudo obtém, que tudo vale, que tudo substitui!» E ele bebeu no ventre monstruoso, cujo eco sonoro fez o comentário da sua grosseira palavra.
      Voltei-me com asco, e respondi: «Eu não tenho necessidade, para o meu gozo, da miséria de ninguém; eu não quero uma riqueza contristada, como um papel de forrar, por todas as desditas representadas na tua pele.»
      Quanto à Diabinha, mentiria se não dissesse que, à primeira vista, lhe encontrei um estranho encanto. Para definir este encanto, a coisa alguma poderia compará-lo melhor do que ao encanto das mulheres muito belas já maduras, que no entanto não envelhecem mais, e cuja beleza conserva a magia penetrante das ruínas. Tinha um ar ao mesmo tempo imperioso e desengraçado, e os seus olhos, embora cansados, eram de energia fascinante. O que me impressionou mais foi o mistério da sua voz, em que encontrei a lembrança dos contralti mais deliciosos, e, também, um pouco o enrouquecimento das gargantas incessantemente lavadas pela aguardente.
       «Queres conhecer o meu poder?» - disse a falsa deusa com a sua voz encantadora e paradoxal. «Escuta.»
       E ela então emboca uma gigantesca trombeta, enfeitada, coma uma flauta de cana, com os títulos de todos os jornais do universo, e através dessa trombeta gritou o meu nome, que rolou assim através do espaço com o estrondo de cem mil trovões, e que voltou até mim repercutido pelo eco do mais longínquo planeta.
       «Diabo!», disse eu, quase subjugado, «eis o que é preciso!» Mas examinando com mais atenção a sedutora virago, pareceu-me que a reconhecia vagamente por a ter visto beber com alguns mariolas do meu conhecimento; e o som rouco de cobre trouxe aos meus ouvidos não sei que recordação duma trombeta prostituída.
      E assim respondi, com todo o meu desdém: «Vai-te embora! Eu não fui feito para despojar a amante de certa gente que não quero nomear.»
      Sem dúvida que, sendo portador de tão corajosa abnegação, eu tinha o direito de sentir-me orgulhoso. Mas desgraçadamente eu acordei, e toda a minha energia me abandonou. « Na verdade - disse comigo - foi preciso que eu estivesse a dormir bem pesadamente para mostrar tais escrúpulos. Ah! se eles pudesssem voltar enquanto estou acordado, não me faria tão esquisito!»
         E invoquei-os em voz alta, suplicando-lhes que me perdoassem, e oferecendo-me para ser desonrado tantas vezes quantas fossem precisas para lhes merecer os seus favores; mas eu tinha-os certamente ofendido muito, pois nunca mais voltaram.»




Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 60-64

XVII UM HEMISFÉRIO NUMA CABELEIRA

    «Deixa-me respirar por muito, muito tempo, o odor dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sequioso na água duma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir as recordações no ar.
     Se tu pudesses saber tudo o que eu vejo! tudo o que eu sinto! tudo o que eu ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja sobre o perfume como a alma dos outros homens viaja sobre a música.
     Os teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros; contêm grandes mares cujas monções me levam para climas adoráveis, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera tem o perfume dos frutos, das folhas e da pele humana.
     No oceano da tua cabeleira, entrevejo um porto a formigar de canções dolentes, de homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas recortando as arquitecturas finas e complicadas sob um céu imenso onde se pavoneia um calor eterno.
      Nas carícias da tua cabeleira, encontro os langores das longas horas passadas sobre um divã no camarote dum belo navio, embaladas pelo arfar imperceptível do porto, por entre os vasos de flores e as bilhas que refrescam a água.
      No lume ardente da tua cabeleira, respiro o odor do tabaco misturado com ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira, vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas praias acetinadas da tua cabeleira, embebedo-me com os odores combinados de alcatrão, de musgo e de óleo de coco.
    Deixa-me morder longamente as tuas tranças pesadas e negras.
     Quando mordisco os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que devoro recordações.»




Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.49/50

sábado, 8 de outubro de 2011

Não lhe parece, minha senhora?

«Não lhe parece, minha senhora, que lhe deixo aqui um madrigal inteiramente digno de apreço, e tão pomposo como vós mesmas? E, em boa verdade, tive tanto prazer em abordar esta pretenciosa galantaria, que nada vos peço em troca.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.48
«Estava a partir sossegadamente o meu pão, quando um ruído muito leve me fez levantar os olhos. Diante de mim estava um pequeno ente andrajoso, negro, esgadelhado, cujos olhos cavos, bravios e como suplicantes, devoravam o meu pedaço de pão. E ouvi-o suspirar, numa voz baixa e rouca, a palavra: bolo! Não pude deixar de rir  ouvindo a designação com que ele queria honrar o meu pão quase branco, e parti para ele um bom pedaço que lhe estendi. Lentamente, foi-se aproximando, sem tirar os olhos do objecto da sua cobiça: depois, agarrando o pedaço de pão, recuou bruscamente, como se temesse que a minha oferta não fosse sincera ou que dela já me tivesse arrependido.»





Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.45

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Arthur Rimbaud

Mortal, anjo e demónio, ou seja, Rimbaud,
Mereces o primeiro lugar no meu livro,
Apesar do boçal escriba que te chamou
Ébrio liceal, devasso imberbe, monstro a abrir.

Fumo em espirais de incenso, acordes de alaúde
Alegram-se ao entrares no templo da memória
E o teu nome radioso cantará na glória,
Porque tu amaste como foi preciso, em tudo.

Mulheres verão em ti um jovem muito forte,
Belo, de uma beleza rústica e perversa,
Desejável, com a tua indolência atrevida!

E a história esculpiu-te ao triunfares da morte
Fruindo até aos puros excessos da vida,
Com os teus brancos pés na cabeça da Inveja!

(DEDICÁCIAS)




Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 175
«Trabalho de árduas noites, de onde então se eleva
A Obra, devagar, como um sol matinal!»



Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 147

«Raiando o céu cinzento com asas de lume, »



Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 143

domingo, 4 de setembro de 2011

Dies Israe

Il est un jour, une heure, où dans le chemin rude,
Courbé sous le fardeau des ans multipliés,
L'Esprit humain s'arrête, et, pris de lassitude,
Se retourne pensif vers les jours oubliés.

La vie a fatigué son attente inféconde ;
Désabusé du Dieu qui ne doit point venir,
Il sent renaître en lui la jeunesse du monde ;
Il écoute ta voix, ô sacré Souvenir !

Les astres qu'il aima, d'un rayon pacifique
Argentent dans la nuit les bois mystérieux,
Et la sainte montagne et la vallée antique
Où sous les noirs palmiers dormaient ses premiers Dieux.

Il voit la Terre libre et les verdeurs sauvages
Flotter comme un encens sur les fleuves sacrés,
Et les bleus Océans, chantant sur leurs rivages,
Vers l'inconnu divin rouler immesurés.

De la hauteur des monts, berceaux des races pures,
Au murmure des flots, au bruit des dômes verts,
Il écoute grandir, vierge encor de souillures,
La jeune Humanité sur le jeune Univers.

Bienheureux ! Il croyait la Terre impérissable,
Il entendait parler au prochain firmament,
Il n'avait point taché sa robe irréprochable ;
Dans la beauté du monde il vivait fortement.

L'éclair qui fait aimer et qui nous illumine
Le brûlait sans faiblir un siècle comme un jour ;
Et la foi confiante et la candeur divine
Veillaient au sanctuaire où rayonnait l'amour.

Pourquoi s'est-il lassé des voluptés connues ?
Pourquoi les vains labeurs et l'avenir tenté ?
Les vents ont épaissi là-haut les noires nues ;
Dans une heure d'orage ils ont tout emporté.

Oh ! la tente au désert et sur les monts sublimes,
Les grandes visions sous les cèdres pensifs,
Et la Liberté vierge et ses cris magnanimes,
Et le débordement des transports primitifs !

L'angoisse du désir vainement nous convie :
Au livre originel qui lira désormais ?
L'homme a perdu le sens des paroles de vie :
L'esprit se tait, la lettre est morte pour jamais.

Nul n'écartera plus vers les couchants mystiques
La pourpre suspendue au devant de l'autel,
Et n'entendra passer dans les vents prophétiques
Les premiers entretiens de la Terre et du Ciel.

Les lumières d'en haut s'en vont diminuées,
L'impénétrable Nuit tombe déjà des cieux,
L'astre du vieil Ormuzd est mort sous les nuées ;
L'Orient s'est couché dans la cendre des Dieux.

L'Esprit ne descend plus sur la race choisie ;
Il ne consacre plus les Justes et les Forts.
Dans le sein desséché de l'immobile Asie
Les soleils inféconds brûlent les germes morts.

Les Ascètes, assis dans les roseaux du fleuve,
Écoutent murmurer le flot tardif et pur.
Pleurez, Contemplateurs ! votre sagesse est veuve :
Viçnou ne siège plus sur le Lotus d'azur.

L'harmonieuse Hellas, vierge aux tresses dorées,
À qui l'amour d'un monde a dressé des autels,
Gît, muette à jamais, au bord des mers sacrées,
Sur les membres divins de ses blancs Immortels.

Plus de charbon ardent sur la lèvre-prophète !
Adônaï, les vents ont emporté ta voix ;
Et le Nazaréen, pâle et baissant la tête,
Pousse un cri de détresse une dernière fois.

Figure aux cheveux roux, d'ombre et de paix voilée,
Errante au bord des lacs sous ton nimbe de feu,
Salut ! l'Humanité, dans ta tombe scellée,
Ô jeune Essénien, garde son dernier Dieu !

Et l'Occident barbare est saisi de vertige.
Les âmes sans vertu dorment d'un lourd sommeil,
Comme des arbrisseaux, viciés dans leur tige,
Qui n'ont verdi qu'un jour et n'ont vu qu'un soleil.

Et les sages, couchés sous les secrets portiques,
Regardent, possédant le calme souhaité,
Les époques d'orage et les temps pacifiques
Rouler d'un cours égal l'homme à l'Éternité.

Mais nous, nous, consumés d'une impossible envie,
En proie au mal de croire et d'aimer sans retour,
Répondez, jours nouveaux ! nous rendrez-vous la vie ?
Dites, ô jours anciens ! nous rendrez-vous l'amour ?

Où sont nos lyres d'or, d'hyacinthe fleuries,
Et l'hymne aux Dieux heureux et les vierges en choeur,
Eleusis et Délos, les jeunes Théories,
Et les poèmes saints qui jaillissent du coeur ?

Où sont les Dieux promis, les formes idéales,
Les grands cultes de pourpre et de gloire vêtus,
Et dans les cieux ouvrant ses ailes triomphales
La blanche ascension des sereines Vertus ?

Les Muses, à pas lents, Mendiantes divines,
S'en vont par les cités en proie au rire amer.
Ah ! c'est assez saigner sous le bandeau d'épines,
Et pousser un sanglot sans fin comme la Mer !

Oui ! le Mal éternel est dans sa plénitude !
L'air du siècle est mauvais aux esprits ulcérés.
Salut, Oubli du monde et de la multitude !
Reprends-nous, ô Nature, entre tes bras sacrés !

Dans ta khlamyde d'or, Aube mystérieuse,
Éveille un chant d'amour au fond des bois épais !
Déroule encor, Soleil, ta robe glorieuse !
Montagne, ouvre ton sein plein d'arome et de paix !

Soupirs majestueux des ondes apaisées,
Murmurez plus profonds en nos coeurs soucieux !
Répandez, ô forêts, vos urnes de rosées !
Ruisselle en nous, silence étincelant des cieux !

Consolez-nous enfin des espérances vaines :
La route infructueuse a blessé nos pieds nus.
Du sommet des grands caps, loin des rumeurs humaines,
Ô vents ! emportez-nous vers les Dieux inconnus !

Mais si rien ne répond dans l'immense étendue,
Que le stérile écho de l'éternel Désir,
Adieu, déserts, où l'âme ouvre une aile éperdue !
Adieu, songe sublime, impossible à saisir !

Et toi, divine Mort, où tout rentre et s'efface,
Accueille tes enfants dans ton sein étoilé ;
Affranchis-nous du temps, du nombre et de l'espace,
Et rends-nous le repos que la vie a troublé !

IV Voto

Ah! primeiras amantes! oaristos!, dourados
Cabelos, o azul dos olhos, carne em flor
De corpos juvenis, e entre o seu odor
As carícias a medo e com espontaneidade!

Ficaram já distantes essas alegrias
E todas as canduras! Rumo à Primavera
Dos remorsos fugiram os negros Invernos
Das minhas dores, dos meus cansaços e agonias!

E eis-me aqui, agora, só e abatido,
Desesperado e mais frio que os avós mais antigos,
Tão pobre como um órfão sem irmã crescida.

Ó mulher de amor meigo e tão reconfortante,
Suave e pensativa, que nunca se espanta
E nos beija na testa, como uma criança!



Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 57

domingo, 10 de julho de 2011

Arbre

C’était lors de mon premier arbre,
J’avais beau le sentir en moi
Il me surprit par tant de branches,
Il était arbre mille fois.
Moi qui suis tout ce que je forme
Je ne me savais pas feuillu,
Voilà que je donnais de l’ombre
Et j’avais des oiseaux dessus.
Je cachais ma sève divine
Dans ce fût qui montant au ciel
Mais j’étais pris par la racine
Comme à un piège naturel.
C’était lors de mon premier arbre,
L’homme s’assit sous le feuillage
Si tendre d’être si nouveau.
Etait-ce un chêne ou bien un orme
C’est loin et je ne sais pas trop
Mais je sais bien qu’il plut à l’homme
Qui s’endormit les yeux en joie
Pour y rêver d’un petit bois.
Alors au sortir de son somme
D’un coup je fis une forêt
De grands arbres nés centenaires
Et trois cents cerfs la parcouraient
Avec leurs biches déjà mères.
Ils croyaient depuis très longtemps
L’habiter et la reconnaître
Les six-cors et leurs bramements
Non loin de faons encore à naître.
Ils avaient, à peine jaillis,
Plus qu’il ne fallait d’espérance
Ils étaient lourds de souvenirs
Qui dans les miens prenaient naissance.
D’un coup je fis chênes, sapins,
Beaucoup d’écureuils pour les cimes,
L’enfant qui cherche son chemin
Et le bûcheron qui l’indique,
Je cachai de mon mieux le ciel
Pour ses distances malaisées
Mais je le redonnai pour tel
Dans les oiseaux et la rosée.´


Jules Supervielle

Les amis inconnus

Il vous naît un poisson qui se met à tourner
Tout de suite au plus noir d'une lame profonde,
Il vous naît une étoile au-dessus de la tête,
Elle voudrait chanter mais ne peut faire mieux
Que ses sœurs de la nuit, les étoiles muettes.


Il vous naît un oiseau dans la force de l'âge
En plein vol, et cachant votre histoire en son cœur
Puisqu'il n'a que son cri d'oiseau pour la montrer,
Il vole sur les bois, se choisit une branche
Et s'y pose ; on dirait qu'elle est comme les autres.


Où courent-ils ainsi ces lièvres, ces belettes,
Il n'est pas de chasseur encore dans la contrée
Et quelle peur les hante et les fait se hâter,
L'écureuil qui devient feuille et bois dans sa fuite,
La biche et le chevreuil soudain déconcertés ?


Il vous naît un ami et voilà qu'il vous cherche,
Il ne connaîtra pas votre nom ni vos yeux,
Mais il faudra qu'il soit touché comme les autres
Et loge dans son cœur d'étranges battements
Qui lui viennent des jours qu'il n'aura pas vécus.


Et vous que faites-vous, ô visage troublé,
Par ces brusques passants, ces bêtes, ces oiseaux,
Vous qui vous demandez, vous, toujours sans nouvelles :
Si je croise jamais un des amis lointains
Au mal que je lui fis, vais-je le reconnaître ?


Pardon pour vous, pardon pour eux, pour le silence
Et les mots inconsidérés,
Pour les phrases venant de lèvres inconnues
Qui vous touchent de loin comme balles perdues,
Et pardon pour les fronts qui semblent oublieux.



Jules Supervielle (1884-1960)

Les amis inconnus, 1934 – éditions Gallimard

domingo, 1 de maio de 2011

TARDE DE OVELHAS

A mancha de sangue depõe-se no horizonte de aqui,
A gota de leite desponta no horizonte de lá.
Homem simples que se dissipa na flauta e cuja pru-
       [dência tem a forma de um cão negro, o pastor
                             [desce a adolescência da encosta.
Seguem-no as suas ovelhas, com dois pâmparos por
        [orelhas e dois cachos por tetas, seguem-no as
                            [suas ovelhas: vinhas ambulantes.
Tão puro o rebanho, que esta tarde estival parece                
                             [nadar na planura infantilmente.
Estes miúdos escrínios de vida roeram, lá no alto.
                             [os perfumadores e descem cheios.
Os meus Desejos também, estimulados pela flauta
 [da Esperança e o cão da Fé, subiam esta manhã
 [a encosta do Mistério, e foram-se mais alto que
                                            [as ovelhas da minha alma.
Mas, na pradaria de jacintos, a cheirosa estrela incen-
       [diou os dentes ávidos que queriam desapertar-lhe
                                                                     [o corpete fértil.
É por isso que o meu rebalho subtil, à hora das ave-
 [-marias, se adentra em mim, flancos desesperados.
As ovelhas estão no redil, e o homem simples vai
[dormir entre a sua flauta e o cão negro.




Saint-Pol Roux. Poesia do século XX. Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, p.147

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mirabeau Bridge

Under Mirabeau Bridge the river slips away
        And lovers
           Must I be reminded
       Joy came always after pain


The night is a clock chiming
The days go by not I


We're face to face and hand in hand
While under the bridges
Of embrace expire
Eternal tired tidal eyes


The night is a clock chiming
The days go by not I


Love elapses like the river
Love goes by
Poor life is indolent
And expectation always violent


The night is a clock chiming
The days go by not I


The days and equally the weeks elapse
The past remains the past
Love remains lost
Under Mirabeau Bridge the river slips away


The night is a clock chiming
The days go by not I



Guillaume Apollinaire. "Mirabeau Bridge" from Alcools, English translation, 1995 Donald Revell and reprinted by permission of Wesleyan University Press.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

«E agora a profundeza do céu consterna-me; a sua limpidez exaspera-me. A insensibilidade do mar, a imutabilidade do espectáculo, revoltam-me...Ah! será preciso sofrer eternamente, ou fugir eternamente do belo?
   Natureza, feiticeira sem piedade, rival sempre vitoriosa, deixa-me! Cessa de provocar os meus desejos e o meu orgulho! O estudo da beleza é um duelo em que o artista grita de pavor antes de ser vencido.»


Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.14
«(...) todas estas coisas pensam através de mim, ou eu através delas (pois na grandeza do sonho, o eu perde-se depressa!);»


Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.13

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Je brûle avec mon âme et mon sang rougissant

Je brûle avec mon âme et mon sang rougissant
Cent amoureux sonnets donnés pour mon martyre,
Si peu de mes langueurs qu'il m'est permis d'écrire
Soupirant un Hécate, et mon mal gémissant.

Pour ces justes raisons, j'ai observé les cent :
A moins de cent taureaux on ne fait cesser l'ire
De Diane en courroux, et Diane retire
Cent ans hors de l'enfer les corps sans monument.

Mais quoi ? puis-je connaître au creux de mes hosties,
A leurs boyaux fumants, à leurs rouges parties
Ou l'ire, ou la pitié de ma divinité ?

Ma vie est à sa vie, et mon âme à la sienne,
Mon coeur souffre en son coeur. La Tauroscytienne
Eût son désir de sang de mon sang contenté.

Théodore Agrippa d' Aubigné

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A l'éclair violent de ta face divine

A l'éclair violent de ta face divine,
N'étant qu'homme mortel, ta céleste beauté
Me fit goûter la mort, la mort et la ruine
Pour de nouveau venir à l'immortalité.

Ton feu divin brûla mon essence mortelle,
Ton céleste m'éprit et me ravit aux Cieux,
Ton âme était divine et la mienne fut telle :
Déesse, tu me mis au rang des autres dieux.

Ma bouche osa toucher la bouche cramoisie
Pour cueillir, sans la mort, l'immortelle beauté,
J'ai vécu de nectar, j'ai sucé l'ambroisie,
Savourant le plus doux de la divinité.

Aux yeux des Dieux jaloux, remplis de frénésie,
J'ai des autels fumants comme les autres dieux,
Et pour moi, Dieu secret, rougit la jalousie
Quand mon astre inconnu a déguisé les Cieux.

Même un Dieu contrefait, refusé de la bouche,
Venge à coups de marteaux son impuissant courroux,
Tandis que j'ai cueilli le baiser et la couche
Et le cinquième fruit du nectar le plus doux.

Ces humains aveuglés envieux me font guerre,
Dressant contre le ciel l'échelle, ils ont monté,
Mais de mon paradis je méprise leur terre
Et le ciel ne m'est rien au prix de ta beauté.


Théodore Agrippa d' Aubigné
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