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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

- a «fadiga-solidão»


Peter Handke. Para uma Abordagem da Fadiga. Tradução de Isabel de Almeida e Sousa. Difel, Lisboa, 1989., p. 12

«(...) até que a fadiga do ouvinte se transmutava em irritação, a irritação em malevolência.»

Peter Handke. Para uma Abordagem da Fadiga. Tradução de Isabel de Almeida e Sousa. Difel, Lisboa, 1989., p. 12

« Na infância, no assim denominado tempo de estudante; sim, ainda nos anos dos amores precoces: muito especialmente então. Durante uma Missa do Galo, a criança encontrava-se assentada entre os seus, na igreja da sua terra apinhada de gente, ofuscante luz, ressoando com os bem conhecidos cantos de Natal, envolta em oradores de panos e de cera, e foi acometida pela fadiga, com o ímpeto de uma moléstia.»


Peter Handke. Para uma Abordagem da Fadiga. Tradução de Isabel de Almeida e Sousa. Difel, Lisboa, 1989., p. 9

domingo, 11 de maio de 2014

«O dinheiro compra a mulher, mas não a prende a nós, percebeste tu? Não compra a simpatia.»


Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 65

quarta-feira, 26 de março de 2014

    «Por que razão é que os cemitérios hão-de ficar sempre em lugares altos, sobranceiros aos mortais? Elias atribui isso a uma regra antiga: medo da peste. Vapores e podres de defunto só o chão das igrejas sossega e purifica. Ou então os ventos. Os ventos lá do alto levam tudo.»

José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 97

segunda-feira, 24 de março de 2014

domingo, 23 de março de 2014

«Elias pega na corrente, põe-se a passá-la nos dedos e à volta do pulso. É uma cadeia delicada em forma de pulseira mas numa bela perna de mulher vale como um compromisso público de pacto de cama.»


José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 87
«Disse isto e deitou-lhe um olhar certeiro, a ver o efeito. E depois, como quem não quer a coisa: Neste momento veio-me uma à ideia que não deixava de ter a sua graça.
   O advogado: Sim?
   Elias Chefe já com a mão na porta: A amante do major, senhor doutor. Não era nada do outro mundo se ela lhe aparecesse àquela porta um dia destes.
  O advogado em despedida de mão mole: Meu amigo, surpresas dessas nem ao diabo se desejam.»


José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 85
«Mena. A porta fechada e ela cá dentro a escorrer chuva. Tremulava na água, muito hirta, havia um pequeno lago aos seus pés. E no entanto entrava sol pela janela e a cabeleira platinada irradiava luz gelada.»

José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 83
« - Não preciso de esmolas! - disse o vadio, com uma dignidade que o emocionou a si próprio.»

Fernando NamoraO Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 46
«Entre as pessoas letradas da vila contava-se que D.Quitéria, numa das recepções do paço episcopal, discutira em voz alta  com outra senhora o emprego do há e do hão; D. Quitéria, por fim, pretendera esmagar a rival com exemplos concretos:
-Então a senhora diz «há coisas» ou «hão coisas»?
-«Há coisas», evidentemente.
-Pois diz mal. «Coisas» é plural.
 Contava-se que o bispo, ao ouvir o remate da conversa, concluíra para um abade que o acompanhava:
 -É estúpida, mas coerente.
E era, de facto.»


Fernando NamoraO Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 45

Fernando Namora, 1960


«Cada um possuía uma intimidade de que ele era afastado. A sua alma, vazia de alegrias e sofrimentos, era afinal corroída pelo isolamento.»


Fernando NamoraO Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 42

«Dias lentos! Dias que pediam repouso e eternidade, sono e independência, tudo menos compromissos.»


Fernando NamoraO Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 33

«A tontinha da Alice estava ansiosa e fascinada. E, na verdade, seria engraçado domesticar um rato; mas que anos de paciência uma tarefa dessas exigia!»

Fernando NamoraO Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 33
«Todo o homem verdadeiro traz da juventude uma direcção. Depois, só lhe resta ter vergonha e manter-se-lhe fiel; ou, então, apodrecer.»

Fernando Namora in ''O Homem Disfarçado''

domingo, 2 de março de 2014

  «Maria Adelaide não chegara ao estado de adulta, talvez pelo muito amor que tinha pelo pai e que julgava inspirar pelo facto de ser criança. As crianças têm com frequência a nostalgia de serem nómadas e, como consequência disso, quando adultas, o sonho de levar uma vida amorosa sem peias e com um toque incestuoso faz com que sejam atraídas pela renúncia ao conforto e ao bem-estar. Depois havia outro motivo, que os alienistas não suspeitaram. Foi o da ascensão social da família numa época em que a sua natureza sexual não estava plenamente desenvolvido, Nem estaria nunca. É uma mulher-menina e nisto está a sua força de atracção: o seu estado virginal comove com a maior das seduções.
    Tudo isto fez o processo da sua neurose obsessiva. Quando o pai se torna rico e bem sucedido na sociedade, Maria Adelaide, adolescente ou criança ainda, sente essa elevação social como uma perda. Desfaz-se em graças domésticas, é incansável, carinhosa, bem educada. Casa-se com o rapaz com futuro que lhe é destinado e que a obriga a viver de maneira elegante e refinada. Mudam-se para o palácio de São Vicente, onde ela se torna na mulher mais invejada e querida de Lisboa. Mas a sua impotência manifesta-se nas crises de mau-humor e fechando-se às escuras no salão, donde despede os amigos e os admiradores. A segurança que demonstrava, desaparece. E, de repente, Maria Adelaide sofre uma crise de exuberância infantil, com a sua fase de sexualidade sem controlo, com um ódio profundo a qualquer convenção social que trave a sua expansão. Um pouco como Julieta, mas sem a idade de Julieta. Não é amor, é o arrastamento do ideal que o nosso ambiente de cultura e estilo pomposo só serve para despistar. Volta-se contra o marido e a gente dele, os amigos bem colocados, bem sucedidos. Durante um período que podia ter sido longo, ela sofre do complexo do convite; sai muito, é vista na ópera, nos chás, no teatro, com uma vulgaridade de exibição que se diria a partir dum sentimento de inferioridade. Torna-se susceptível, odienta, passa à acção quanto no seu inconsciente está à mercê de múltiplas excitações.

   Foi nessa altura que,  numa noite em que recebiam, em Santa Comba, Manuel cantou o fado. Era o que se chama um bom rapaz, não muito inteligente, sem estudos nem propensões. Uma nova escala de valores desencadeia o conflito entre a pessoa educada e sensível e o desejo que não completamente recusa o instinto de morte. Amar o Manuel, fugir de casa, cortar com a família, é uma forma de suicídio. Ela própria pede que a considerem morta. Escreve isso numa cartinha graciosa, pequenina, com uma ilustração dum par que tanto pode ser de camaradas de escola como namorados muito jovens. É a carta duma criança de dez anos.»




Agustina Bessa-LuísDoidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 219
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