domingo, 9 de julho de 2017


''ruína narcísica''

Coimbra de Matos, 2001
«São relações espelho-meu em que o que se pretende é que o outro reflicta a imagem aspirada.»


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 140

depressão narcísica

ferida narcísica


''Quero-te não por quem és, e sim por quem sou quando estou contigo!''

Gabriel Garcia Marquez

''poder pensar os próprios sentimentos''

«A primeira relação triangular vivida é a relação edipiana.»


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 131
«A manutenção do romance requer uma tolerância à vulnerabilidade e à agressão.»



Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 127

folie à deux

Espaço Psíquico


''atravessar as fronteiras do Self, em direcção ao outro, mas mantendo a identidade separada,''

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 125
«Assim, a relação amorosa poderá constituir-se  como um meio holding, facilitador do desenvolvimento, um espaço onde se descobrem possibilidades de se ser o próprio.»



Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 125
''a satisfação genital e a ternura pré-genital'' Balint (1948)



Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 124
Contrato INCONSCIENTE

MAQUINAÇÃO

antídoto

''escolhas narcísicas''


coesão do Self

esquizo-paranóide

''(...) a imaginação é a fundadora do desejo, o que torna alguém desejável é a idealização,''

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 119

Fronteiras frágeis

perda de fronteiras do SELF


Esta mulher, dormindo
Mais um dia que se ajoelhou de faca na boca.
Esta mulher em máximo equilíbrio, sorrindo como uma estátua.
Esta mulher feita de carne e sono, embrulhando os filhos por estrear
Falhou em tudo e ri-se, de carvão a cercar o estômago
As narinas muito abertas à procura do ar
As pernas tranquilas para o outro lado do corpo
Uma dor de furar cidades numa cara adolescente, estreita,
entre dois olhos
É mesmo ela, sem dúvida,
esta mulher de diversão para qualquer dia
um gesto desajeitado para qualquer ombro
o maior esquecimento da família, até aos domingos
E volta a cara para outro lado, de preferência à procura da luz
Não lhe resta nenhuma paciência, declarou a guerra perdida
a vida é pouco mais que a humidade desta sala e morte lenta por silêncio
Mas há-der vir uma desculpa que lhe baste para o nojo de estar
desperta
e o cheiro contínuo a orfandade

Cláudia R. Sampaio

quinta-feira, 29 de junho de 2017

agulha-alfinete-algodão

“Enfim do uma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar, sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até de um copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.”

 Sérgio Godinho

terça-feira, 27 de junho de 2017

"O próximo grande avanço na medicina será compreender que a vida espiritual está ligada com a física"

Christopher Briscoe

Neale Donadl Walsch, autor bestseller de 29 livros traduzidos em 37 línguas, quer acelerar a evolução espiritual da espécie humana. Em entrevista à VISÃO, o norte-americano explica porque acredita que será da combinação entre a cura física e a espiritual que nasce "a cura maior de todas"


''Tudo começou há mais de duas décadas, quando iniciou as suas Conversas com Deus (Sinais de Fogo), série de livros que esteve no top do The New York Times durante mais de 130 semanas e que por cá vendeu 109 500 exemplares, a que se somam mais 41 200 de outros títulos. Neale, que esteve há dez anos no Centro de Congressos do Estoril, voltou ao nosso país, a 24 de junho, desta vez no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, para dar uma conferência sobre Despertar a Espécie, tema do quarto livro da série (não traduzido ainda).

Neale passou a adolescência a estudar religiões e alcançou o sucesso na vida adulta até entrar numa crise profunda, perder a saúde, o emprego e o casamento. Foi sem abrigo durante um ano. Chegou a pensar em suicídio. Mas depois viveu a experiência marcante que o tornaria num autor famoso. Pai de nove filhos (com idades que vão dos 21 aos 49 anos) e casado pela sétima vez, vive com a poetisa americana Em Claire, no Oregon, e nem a cirurgia ao coração, a que se submeteu no final do ano passado, o fez parar de escrever e dar palestras pelo mundo. Aos 73 anos, desafia os leitores a "relacionarem--se com o divino numa perspetiva moderna" com um postulado simples: tudo está ligado e todos somos um.

Começo por uma citação sua: "98% das pessoas gasta 98% do tempo em coisas que não têm importância". O que quer dizer ao certo?


Exatamente isso. Muitos desconhecem a sua verdadeira identidade espiritual, ficam-se pelo "ter o emprego, o carro, a casa, o cônjuge, os filhos". Nem eu fazia ideia, até começar a escrever, das quatro coisas que interessam: quem sou, onde estou, porquê e o que faço acerca disso.

Desde quando começou a pensar no sentido da vida?

Tinha sete anos. Questionei o padre da paróquia. O que queria Deus? Porque estava eu ali? Respondeu-me: "Filho, nem eu estou certo de saber quem sou nem de nada em concreto, a não ser da minha fé." Eu ia para casa e interrogava-me: "Porque não podemos dar-nos todos bem na minha família?" Ou "Porque é que as coisas não são mais simples?"

Quem era o Neale adulto, antes de ser o autor das Conversas com Deus?

Eu achava que era um homem realizado. Primeiro na comunicação social, depois como diretor do departamento de relações públicas numa grande escola. Aos 35 anos deixei o cargo por sentir-me vazio, apesar do salário elevado, do carro, da casa, dos filhos, dos casamentos.

Como explica isso?

Eu não sabia o que era o amor: Acreditava que as mulheres deviam fazer-me feliz, que tinham essa função. Também não tinha a noção do que andava cá a fazer. Procurava respostas nos relacionamentos e não em mim, ou em Deus.

Ver-se na pele de sem abrigo pode acontecer a todos nós. A si, foi no meio da vida, antes da primeira conversa com Deus. O que aconteceu?

Vivi na rua durante um ano. Aos 49 tive um acidente de viação e fraturei o pescoço. Sobrevivi sem ficar paraplégico mas perdi a saúde e o emprego. O meu casamento acabou.

Tudo corria mal. Uma noite dei por mim indignado, a lançar um repto a Deus: "Há alguma coisa que esteja a escapar-me? Diz-me o que é para fazer, por favor!"

Fê-lo por desespero ou por acreditar que Deus respondia? Achou que estava a ser um canal da presença divina?

Eu não canalizo Deus! Prefiro chamar-lhe escrita inspirada. Limitei-me a reproduzir perguntas e respostas e a voz que ouvia dentro de mim.

Tinha um género?

Não, era uma voz sem som, como a dos pensamentos que ouvimos na nossa mente.

Porque lhe chamou Deus?

Pela natureza das respostas que eu estava a receber, que nunca tinha ouvido ou imaginado antes. Depois, pelo estado emocional em que fiquei: calmo, com uma grande paz e as lágrimas a deslizar pela face, à medida que as respostas vinham.

Pode dar um exemplo?

Dou-lhe dois. Perguntei porque é que, seguindo as regras [os dez mandamentos] a minha vida não estava a funcionar. Ouvi isto: "Pensas que a vida gira à volta de ti e ela nada tem a ver contigo, mas com as vidas de todos aqueles que tocares e da forma como o fizeres." Os mandamentos eram uma invenção humana.

Como olhar então para os ensinamentos de Cristo, Moisés, Buda?

Não estamos na posse de toda a história por trás das religiões. Pense numa criança que acredita que há só contas de somar e de subtrair. Depois descobre a multiplicação, a indivisibilidade, a trigonometria, a geometria, a matemática aplicada... Na sua húbris, os humanos têm a arrogância de presumir que sabem tudo. Não sabem.

Como é que a Igreja tem reagido aos seus livros, palestras e workshops?

Na ciência, na tecnologia e na medicina, fazemos perguntas. Porque não o fazemos também na religião? Estamos congelados no tempo e a seguir preceitos incompletos sem explorar o que há mais para saber. Não admira que haja guerras e se mate, ainda, em nome de Deus!

O que podemos fazer, de acordo com a sua visão?


Explorar crenças fundamentais sobre a vida, sobre nós e o que achamos ser Deus. Sabe que ao longo da próxima hora 655 crianças morrerão à fome, 1,8 mil milhões de pessoas estão sem água potável, 1,7 mil milhões não tem eletricidade e 2,6 mil milhões vivem sem saneamento básico? Vivemos como primitivos! No meu livro proponho que nos comportemos como uma espécie desperta e altamente evoluída, a fim de mudar as crenças sobre quem somos, e o nosso papel aqui.

Quando fala de seres altamente evoluídos refere-se a seres extraterrestres?

Hoje sabemos que o cosmos é 100 vezes maior do que os físicos pensavam e provavelmente haverá vida inteligente nele.


Das 16 condutas que caracterizam estes seres, quais são as prioritárias?


Destaco quatro. Um ser altamente evoluído vê a unidade da vida. Cultiva a coerência e diz sempre a verdade. Partilha tudo o que tem. E faz apenas o que funciona.

Pode explicar melhor?


Imagine que quer ver os seus filhos livres de raiva e de violência. Educa-os colocando-lhes à frente imagens de bater, disparar e matar, seja na TV ou nos videojogos dos tablets. É claro que aos 24, aos 30, vão resolver problemas dessa forma. Outro exemplo [simula que está a fumar um cigarro e tosse]: quer ser saudável, sabe que o cigarro intoxica, mas continua a fumar.

O que mudou na sua vida após ter sido operado ao coração?

Depois de eu ter concluído este livro (Conversas com Deus 4: Despertar a Espécie, sem tradução portuguesa), que foi escrito entre agosto e setembro, chamaram-me para fazer um bypass quíntuplo, cirurgia de coração aberto. Isto foi o resultado de uma série de erros meus: não ter cuidado a comer, não fazer exercício, não tomar conta do meu corpo enquanto era jovem.

Desde então, como é um dia seu?

Faço o melhor que posso! Estou mais atento às decisões que tomo, das mais pequenas "o que vamos jantar?" às maiores "devo mudar de emprego? De país?". Levanto-me às 4h30 ou cinco da manhã, escrevo, trabalho e acabo o dia por volta das nove da noite.

Como lida com os seus opositores, dos católicos aos ateus?


(faz uma pausa, fecha os olhos e suspira) Não tenho qualquer problema em relação às pessoas que discordam de mim. A mensagem que ofereço não é infalível, eu posso estar errado em toda a linha. Digo isso nas conferências: se experimentarem aplicar isto às vossas vidas e nada mudar com os princípios que apresento nos meus livros, deitem fora e não os partilhem com mais ninguém! "Vivam e sejam a vossa própria autoridade." Quero que leiam o que escrevi com uma mente aberta.

O que pretendeu dizer com o livro escrito com a médica e cientista Brit Cooper?

O próximo grande avanço na medicina será compreender que a vida espiritual está ligada com a física e, se combinarmos ambas, descobrimos a cura maior de todas, que é metafísica.

Admitindo que escolhemos o nosso caminho, isso inclui, por exemplo, o poder optar pela eutanásia.

As nossas decisões são nossas. Um assunto entre nós e Deus, nós e a nossa alma, nós e a nossa mente. Não devemos dar ouvidos a ninguém nessa matéria. Desde que não se cause danos, nenhum governo tem o direito de interferir nessas escolhas.

Está na altura de fazer a tal pergunta: como define Deus?

Energia pura. A fonte de tudo o que existe. Não há nada que Deus não seja: Deus é tudo o que é, foi e será. É a unidade, a que chamo Deus ou a Vida ela mesma. É a fonte de inteligência e de sabedoria que podemos usar e com isso transformar radicalmente as nossas vidas.

Aponta-se o dedo à Nova Espiritualidade por envolver o pensamento mágico: se criamos a nossa realidade, somos "culpados" pelas condições que levam ao acidente, ao cancro, ao ser mendigo ou refugiado.

Essa ideia é perigosa, presta-se a equívocos. A nossa experiência pessoal cria-se a partir de circunstâncias externas e coletivas, mas não vejo como uma guerra ou um tsunami possam resultar dessa realidade interna. Nem que tenha sido ela a determinar a morte, por cancro, do meu tio Joe, há duas semanas.

Considera-se um guru?

(solta uma gargalhada) Oh Deus, não! Um guru é alguém que vive o que prega. Eu não faço isso. Ainda estou a (pausa)... a lembrar-me de como se faz.

Lembrar?

Acredito que, como a árvore que já traz o seu código na semente, também nós já vimos apetrechados com tudo o que precisamos, só precisamos de recordar quem realmente somos.

Está a referir-se à reencarnação? Despertar a espécie é também sobre isso?

Sim. Acredito que a vida nunca acaba. E que a melhor forma de despertar é ajudar outros a despertar. Buda, Lao Tsu, Jesus, eram mestres espirituais. Ao ensinarem, ativavam o processo de lembrar a sua sabedoria.

É possível haver fé sem inteligência?


Dou entrevistas por isso: se facilitar o despertar de alguém, cumpri a minha intenção, a de experienciar o meu próprio despertar.

Como é estar no programa Conversas com Neale [série disponível na Amazon Prime]?

As pessoas trazem problemas, eu ajudo-as a passar por eles e a seguir em frente com os princípios das Conversas com Deus. Vou passar o resto da vida a fazer o que puder para passar a mensagem ao maior número de pessoas.

É esse o objetivo do site CWG Connect?

O site tem recursos gratuitos com perto de três mil páginas de diálogos. A prioridade é fazer chegar a mensagem de que todos somos um e devolver as pessoas a si mesmas, lembrando-as de quem realmente são, qual o seu propósito de vida e formas de alcançá-lo.

É uma das três missões que recebi de Deus: a primeira é mudar o que as pessoas pensam sobre Ele e a terceira é despertar a espécie. Se aplicar isto na política, na economia e nos sistemas sociais, teremos grandes mudanças.

Diz que desconhecia o amor até chegar ao sétimo casamento. Alguma sugestão?

Quando se compreende o significado da unidade deixa de ser preciso esperar algo em troca. Amar é isto: "Quero para ti o que queres para ti, sem te barrar o caminho ou dizer-te o que não podes fazer." O amor genuíno proporciona a liberdade plena, sem nada esperar de volta. Se vivêssemos assim os nossos casamentos, não haveria divórcios.''

domingo, 25 de junho de 2017


(...)

«Para quê rendas e folhos,
Senhora da minha vida,
Se por estes tristes olhos,
Por meus olhos sois despida?»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 60

«Mãos que sois um perpétuo amanhecer,»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 59

«Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes...»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 59

«Quando a morte vier;
E, por minha alma, mandarás dizer trezentas missas,»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 48

«Às horas vesperais, entre o nevoeiro lácteo.»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 42

«Não tenteis compreender-me: não me compreenderíeis.»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 38

nefelibata


adjetivo de 2 géneros
1. que não tem o sentido das realidades
2. (escritor) que cultiva a forma em demasia

nome de 2 géneros
1. pessoa que anda nas nuvens, longe da realidade
2. escritor que cultiva exageradamente a forma, fugindo aos processos literários simples e conhecidos

''Amores metafísicos''


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 37

“Ida” [de Pawel Pawlikowski]

ícone do Holocausto

reminiscências da guerra

sábado, 24 de junho de 2017


«Finalmente decide adormecer com a pistola na mão a fim de que aconteça o que deve acontecer. Com este objectivo acaba de tomar os comprimidos de Veronal.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 105

O tempo da Psique

concatenação

''luz esmagante''

«(...) o rosto da Virgem cuidadosamente sujo de excrementos,»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 98


«Os blasfemos  flutuavam nos pântanos, as turbas fremiam sob o látego dos bispos mutilados de mármore, usavam-se os sexos femininos para moldar os sapos.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 95

«Tudo é absolutamente realizável»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 93

PALÁCIO DE GELO


      Os charcos formavam um dominó decapitado de edifícios, dos quais um era o torreão que me contaram na infância, de uma só janela, tão alta como os olhos da mãe quando se inclinam sobre o berço.
    Perto da janela pende um enforcado que se balanceia sobre o abismo cercado de eternidade, uivado de espaço. SOU EU. É o meu esqueleto de que já não restam senão os olhos.Tão depressa riem como se me entortam, ou VÃO COMER UMA MIGALHA DE PÃO NO INTERIOR DO MEU CÉREBRO. Abre-se a janela e aparece uma dama a pôr polisoir nas unhas. Quando as vê suficientemente afiadas arranca-me os olhos e atira-os para a rua. Ficam-se as órbitas sozinhas, sem olhar, sem mar, sem desejos, sem frangos, sem nada.
    Uma enfermeira vem sentar-se ao meu lado na mesa do café. Desdobra um jornal de 1856 e lê com voz emocionada:
   «Quando os soldados de Napoleão entraram em Saragoça, na VIL SARAGOÇA, só encontraram o vento pelas ruas desertas. Só num charco grasnavam os olhos de Luis Buñuel. Os soldados de Napoleão acabaram-nos à baionetada.»




Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 90

 “Os dias Prósperos não vêm por acaso.
Nascem de muita fadiga e
 muitos intervalos de desalento”

Camilo Castelo Branco

''A pele enrugada denunciava as muitas histórias na bagagem. As lágrimas eram uma carta de amor à terra queimada, negra, de luto. A roupa cheirava à besta que arruinou a vida àquela gente. Tinha um pau na mão direita para se amparar e o regador laranja na mão esquerda, para calar o fumo que saía por baixo dos pés. Maria do Rosário, de 84 anos, foi fotografada no regresso a casa por Joaquim Dâmaso, do jornal Região de Leiria. Esta é a história da fotografia em Enchecamas, uma aldeia de Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria.''

escuridões silenciosas

terça-feira, 20 de junho de 2017

segunda-feira, 19 de junho de 2017

"Ouvi que uma voz de poeta me falava de casas
e disse é numa nuvem que hei-de morar, do ar
do ar. Era novo pesquisava ouro exactamente
a meio da literatura - mais tarde, num
sonho da B. suicidava-me, tal & qual, no mais longo pé
riplo do mais denso dos centros: um verso menos
leve, o corpo das correntes quen
tes, tu. E hoje, minhas canções, temos
uma cama, não a rapariga. Ide, pois, como as
de Pound"

"O Desflashar dos Espaços"
 Carlos Leite
Eucaliptugal, o ecocídio da floresta nacional

sexta-feira, 16 de junho de 2017



We are just waves in time and space, changing continuously.

Nikola Tesla

quinta-feira, 15 de junho de 2017


“eis-me acordado/ com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos/ estas fotografias onde cruzei os dias/ sem me deter/ e por detrás de cada máscara desperta/ a morte de quem partiu e se mantém vivo.”

Al Berto

doutos juízos

“o último habitante do lado mitológico das cidades”

Al Berto
“Depois de uma noite agitada, um escaravelho terrível acorda metamorfoseado no autor destas linhas”, escreveu Al Berto

''rios de veludo''


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 34


«Ah! eu receio o amor, como receio a morte!
Não me despertes, não! Tu, que és ágil e forte,
Não me despertes, não, a mim débil, cansada...
Ah! deixa-me viver assim anestesiada,
Inconsciente, quieta, indiferente a tudo,
Olhar parado sempre, o lábio sempre mudo,
Circundada de sons, perfumes e visões...
O anacâmpsero, a flor que sugere paixões,
Não venhas desfolhá-lo em meu frio regaço...
Deixa-me assim viver neste quietismo lasso,
Não venhas alterar os meus dias longos, tristes...
Não me fales de amor; e, se acaso persistes
Em procurar em mim um filtro que te adoce,
Ama-me, sim, porém sem a ideia da posse,
Com um amor absconso, espiritual, silente, 
Ama-me simplesmente e religiosamente,
Como se eu fosse, amigo, uma noviça morta!

Do meu peito não te abro a inviolada porta,
Ah! deixa-me sonhar, ah! deixa-me dormir!»




Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29

«Frígido coração onde o tédio governa,»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29

(...)

«Esta minha frieza, o meu desprendimento
Não é orgulho, nem desdém, nem é desprezo.»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 28

conúbio

nome masculino

1. matrimónio; núpcias
2. figurado união; ligação

«Teus lábios de cinábrio, entreabre-os!»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 25

«Suaves, lentos lamentos»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 23

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei-de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.




Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22
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